Título: Meirelles: incerteza eleva juros reais
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Economia, p. B4

Para presidente do BC, risco tende a cair à medida que se mostre a consistência de uma política econômica que está dando certo O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, disse ontem que a redução das incertezas sobre a continuidade da atual política econômica é um dos fatores que podem derrubar as altas taxas de juros reais no Brasil. "O risco tende a cair à medida que se mostre a consistência de uma política que está dando certo", disse Meirelles, que ontem participou do segundo e último dia da reunião de presidentes de bancos centrais da América Latina, em Cartagena, na Colômbia. Entre os fatores que podem contribuir para reduzir o juro real, citados por Meirelles, estão a manutenção da inflação dentro das metas e o equilíbrio fiscal. Para o presidente do BC, são conquistas que reduzem o risco da dívida pública do País, e portanto levam à diminuição do juro real.

Meirelles afirmou que a taxa real de juros média de 2005, até abril, foi de 9,7%, abaixo portanto da taxa de mais de 20% do período entre 1994 e 1998, ou da média de 11% entre 1999 e 2003. Ele criticou o uso da projeção da inflação pelo mercado para se calcular o juro real, que geralmente coloca o Brasil como o país com as taxas mais elevadas do mundo. Segundo Meirelles, o critério correto é observar a inflação efetivamente ocorrida no período.

Ontem, ele divulgou um comunicado conjunto da reunião que teve na quarta-feira com os presidentes dos bancos centrais da Argentina, Martín Redrado, e da Venezuela, Gastón Parra Luzardo. O presidente do BC brasileiro ficou satisfeito com o fato de que a declaração tenha recomendado "políticas monetárias prudentes que favoreçam a estabilidade dos preços" e estabelecido que a contribuição dos BCs ao crescimento deva se dar "principalmente mediante a estabilidade de preços e a estabilidade macroeconômica". Argentina e Venezuela estão entre os raros países latino-americanos cuja inflação está beirando os dois dígitos (caso do primeiro), ou acima, caso venezuelano.

Meirelles evitou comentar a ata do Comite de Política Monetária (Copom), divulgada na quinta-feira, mas revelou que um dos pontos em que se gastou mais tempo para escrever o texto (o que é uma indicação da sua importância para o BC) foi aquele em que se comentou a possibilidade de as pressões e expectativas inflacionárias de curto prazo contaminarem o longo prazo e atrapalharem o cumprimento da meta também em 2006.

Sobre a investida do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, contra a autonomia do Copom para decidir a Selic, o presidente do BC disse que "o debate é saudável e faz parte da democracia".

FMI

A diretora de Finanças Públicas do Fundo Monetário Internacional (FMI), Teresa Ter-Minassian, disse ter certeza de que o governo brasileiro aumentaria a meta de superávit fiscal primário (exclui juros), hoje de 4,25%, caso algum choque externo provocasse uma forte piora na dinâmica da dívida pública brasileira.

Ter-Minassian participou ontem de um debate sobre dívida pública e vulnerabilidade macroeconômica, durante o segundo e último dia do encontro de dirigentes de bancos centrais da América Latina. Neste painel, ela foi uma das expositoras, junto com os presidentes do BC brasileiro, Henrique Meirelles, e argentino, Martín Redrado.