Título: Brasil precisa dos EUA, diz diretor do Itamaraty
Autor: Adriana Chiarini
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/04/2005, Economia, p. B6

O diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Itamaraty, Régis Arslanian, afirmou ontem que "seria irresponsável dizer que não precisamos do mercado americano. Precisamos e muito". Em palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro, Arslanian falou das dificuldades para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "A agenda da Alca é uma agenda impossível, de uniformizar regras e disciplinas em 34 países", disse. De acordo com o diplomata, o Brasil precisaria fazer 6 emendas constitucionais e alterar 33 leis para atender a todos os pedidos dos Estados Unidos nas negociações do bloco. Alguns pedidos do governo americano foram qualificados por Arslanian como impossíveis de atender - entre eles, o de que o país da Alca que não conseguir combater a pirataria em obras como CDs, DVDs e programas de computador estará sujeito a retaliações comercias em qualquer outro setor.

Mas as negociações continuam. O Brasil vai renovar sua proposta para negociar acesso a bens, serviços e investimentos, enquanto não se chega a um acordo nos demais temas.

Na semana que vem, o chanceler Celso Amorim terá sua primeira reunião com o novo representante para o Comércio dos Estados Unidos, Robert Portman. No último encontro de Amorim com o antecessor de Portman, Robert Zoellick, no início do ano, em Davos, o ministro brasileiro perguntou: se o Brasil fizesse tudo o que os Estados Unidos querem, o governo americano reduziria a zero a tarifa de suco de laranja, acabaria com as restrições antidumping no aço, aceitaria aumentar a cota de açúcar e reduzir a tarifa de calçados? A resposta foi não, contou Arslanian. "Não é que ele tenha dito 'vamos estudar, vamos ver'. Ele disse 'não'", acrescentou.