Título: Sob ataque, Lisboa já havia pedido para sair
Autor: Beatriz AbreuVera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Economia, p. B3

BRASÍLIA O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Lisboa, informou que voltará para o Rio de Janeiro, onde mora sua família. Sobre seu futuro profissional, disse que, por enquanto, cumprirá quarentena. Ao anunciar a saída de Lisboa do cargo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse que o pedido do secretário para deixar o governo foi feito no fim do ano passado. Segundo o ministro, o secretário deixará o governo para acompanhar o nascimento do filho. "Ele está atendendo a uma convocação da esposa", brincou o ministro. Palocci elogiou o trabalho de Marcos Lisboa, que, segundo ele, é um formulador de excelente qualidade. O secretário demissionário classificou de "impressionante" o trabalho do Banco Central na condução da política monetária. Lisboa elogiou especialmente os diretores de Política Econômica, Afonso Beviláqua, e de Estudos Especiais, Eduardo Loyo, identificados entre os economistas por suas posições conservadoras. Para o secretário, os dois diretores têm feito um trabalho excepcional. Na sua opinião, o Brasil deve muito ao que o BC fez ano passado.A uma pergunta se esta avaliação valeria também para 2005, afirmou: "Continuo com a mesma posição". Nos últimos meses, corriam rumores de que ele estava em choque com os dois diretores.

Lisboa era alvo de ataques da ala mais radical do PT, que o considerava um dos responsáveis por ter convencido Palocci a assumir uma política econômica "ultra-ortodoxa" da economia. No meio acadêmico, é considerado um prodígio. Doutor em Economia pela Universidade da Pennsylvania (EUA) e graduado na Universidade Federal do Rio de Janeiro, tem vasto conhecimentos em temas como saúde, crime, imperfeições do mercado e política industrial.

Em 2003, a economista Maria da Conceição Tavares, ex-deputada pelo PT, disse em um debate no Rio que seria necessário "enquadrar esse menino", numa referência a Lisboa, a quem chamou de papalvo e da turma dos "replicantes" (robôs futuristas). Conceição foi professora de Lisboa. À frente da Secretaria, baseou parte de sua atuação em um conjunto de propostas (algumas delas adotadas) desenvolvidas em um documento chamado de "Agenda Perdida", com alguns dos temas inicialmente preparados para a campanha do então concorrente de Lula à Presidência, Ciro Gomes.