Título: ´Vai exigir trabalho e sacrifício pessoal´
Autor: Beatriz AbreuVera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Economia, p. B3

Murilo Portugal se diz honrado em fazer parte da equipe de Palocci O novo secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, se disse 'honrado' em trabalhar com a equipe de Antonio Palocci. Ele lembrou que era a segunda vez que recebia a confiança do ministro. A primeira foi em novembro de 2004, quando foi reconduzido ao posto de representante do Brasil no Fundo Monetário Internacional (FMI). A segunda, agora, ao receber o cargo de secretário-executivo. 'Sei que vai exigir muito trabalho e sacrifício pessoal', disse. 'Mas estou honrado em trabalhar com uma equipe que executa uma política econômica sólida.' A solidez da política econômica, na avaliação de Portugal, é baseada no cumprimento das metas Ele estava em Washington e havia pedido para voltar ao Brasil superávit primário (diferença positiva entre receitas e despesas, exceto gastos com juros). 'Isso é importante para que a renda e o emprego continuem crescendo, o que é o objetivo final de qualquer política econômica.' Portugal disse que havia pedido a Palocci para voltar ao Brasil.

Ele estava em Washington desde 1996, quando foi assumir o posto de diretor do Brasil junto ao Banco Mundial, indicado por ser homem de confiança do então ministro da Fazenda, Pedro Malan.

Dois anos depois, substituiu Alexandre Kafka como representante do Brasil no FMI. Acumulou os dois cargos durante algum tempo. 'O trabalho era em dobro, mas o salário era um só', brinca ele. Experiente, disciplinado e discreto, ele comandou o Tesouro Nacional com mão de ferro entre 1992 e 1996, nos governos de Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Um exemplo de sua austeridade: numa de suas primeiras conversas com FHC, como secretário do Tesouro, Portugal defendeu que o novo governo precisava atacar o problema das aposentadoria especiais e citou as pensões pagas a viúvas e filhas dos oficiais do Exército. Para reforçar seu argumento, disse que o governo, embora tivesse apenas algumas centenas de generais em seus quadros, pagava pensões de generais a mais de 5 mil pessoas. 'Eu sei', respondeu o então presidente. 'Uma delas é minha irmã.' Portugal foi um dos personagens centrais da reaproximação do Brasil com o FMI. Sacudido pelas crises da Ásia, da Rússia e da desvalorização do real, o País bateu às portas do Fundo em 1998, depois de seis anos sem programa com a instituição. Portugal também participou das negociações do acordo com o FMI em 2002, quando o País foi abalado pelo nervosismo pré-eleitoral.

O programa, que abrangia 2003, foi um dos pilares da transição entre os governos FHC e Lula. Foi nessa época que o então coordenador da transição, Antonio Palocci, decidiu que queria Portugal entre seus auxiliares próximos. Suas passagens no Tesouro, no Fundo e, antes, na assessoria econômica do Planalto, acrescentarão experiência administrativa à equipe da Fazenda.

Formado pela Universidade Federal Fluminense, Murilo Portugal obteve diploma com distinção em Desenvolvimento Econômico na Universidade de Cambridge e fez mestrado na Universidade de Manchester. R.V.