Título: Portugal é opção para presidir BC
Autor: Beatriz AbreuVera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/04/2005, Economia, p. B3

Novo secretário-executivo do Ministério da Fazenda pode substituir Meirelles em caso de investigação pelo STF BRASÍLIA Além de reforçar a atual política econômica, a nomeação de Murilo Portugal para a Secretaria-Executiva do Ministério da Fazenda dá ao ministro Antonio Palocci uma alternativa para a presidência do Banco Central, no eventual impedimento do atual ocupante do posto, Henrique Meirelles, cuja preservação no governo poderá ficar insustentável se o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que deve ser investigado. Embora Palocci e o governo estejam plenamente convencidos da inocência e correção do presidente do BC, existe a avaliação de que o STF pode decidir preservar o status de ministro dado a Meirelles por uma medida provisória, mas autorizar, ao mesmo tempo, a investigação de seus movimentos financeiros, conforme pedido do procurador-geral, Cláudio Fonteles. Nesse caso, a maior autoridade monetária estaria vulnerável e politicamente insustentável.

Além disso, Meirelles não tem escondido seu desconforto com a exposição a que tem sido submetido desde que virou alvo de acusações de supostas sonegação e lavagem de dinheiro. Cansado, ele pode optar por retomar o projeto político de se candidatar ao governo de Goiás ou ao Senado.

O procurador quer explicitar as operações das empresas de Meirelles no exterior, sobre as quais recaem as suspeitas de atuarem da mesma forma como atuam empresas que fazem lavagem de dinheiro. Meirelles tem pronta sua defesa, descarta todas as denúncias e tem trocado idéias com advogados especializados em causas em tribunais superiores antecipando-se à possibilidade de ser submetido a um inquérito.

A situação é delicada. Afinal, Meirelles tem preservado o direito de defesa e conta a seu favor com o fato de que as suspeitas estão relacionadas a um período de sua vida profissional anterior à posse no BC. Palocci defende Meirelles, garante que "não há nenhuma indicação real de irregularidade" contra o presidente do BC e pede "serenidade" na discussão do caso pelo Supremo.

A opção Portugal não é nova. Na época da montagem da equipe econômica, seu nome foi cogitado para a presidência do BC. Palocci, no entanto, recuou diante do fato de que o ex-secretário do Tesouro iria ocupar uma diretoria do Fundo Monetário Internacional (FMI). Hoje esse constrangimento do passado já não existe: o governo se desvencilhou do FMI e pretende conduzir a política econômica sem o guarda-chuva de proteção do Fundo contra eventuais crises futuras na economia mundial que possam afetar a economia brasileira.

Portugal retorna ao Brasil e a um cargo no governo e terá, na diretoria de Assuntos Especiais do Banco Central aquele que foi seu braço direito no FMI: o economista Alexandre Tombini. Podem ser meras trocas de cadeiras, mas dão a Palocci a compreensão de que são mudanças "que ajustam de maneira adequada" a equipe econômica.