Título: Na Presidência, Alencar ataca juros
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Nacional, p. A5

O presidente da República em exercício e ministro da Defesa, José Alencar, voltou à carga contra a política de juros, ontem. Em Palotina, noroeste do Paraná, ele interrompeu a leitura que fazia da mensagem enviada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva - na qual Lula ressaltava a importância do agronegócio e do esforço do governo para equacionar as deficiências em infra-estrutura - para reforçar seu descontentamento com o caminho adotado pelo Banco Central (BC). "Estamos fazendo esforço gigantesco (para investir em logística e infra-estrutura). Mas o orçamento é curto porque sua principal rubrica é de juros com os quais eu não concordo", afirmou. "Não podemos rolar a nossa dívida com taxas de juros dez, 12 vezes maior do que as taxas médias internacionais", continuou Alencar, interrompido por aplausos de cerca de 15 mil pessoas - mais da metade da população do município (29 mil habitantes) - que participam da cerimônia de ampliação do parque industrial da C.Vale, segunda maior cooperativa singular do Brasil e que recebeu R$ 240 milhões de investimentos. Com a ampliação de seu complexo avícola, a C.Vale vai dispor de quatro novas indústrias que irão garantir a estrutura para o aumento da produção de frangos em 50%, passando dos 150 mil abatimentos por dia para 300 mil.

Mais tarde, ao voltar ao tema, durante rápida entrevista coletiva, o presidente em exercício disse que a adoção de uma taxa de juros "alta" inibe o consumo e que o Brasil ainda é um país de subconsumo. "O Brasil é país de subconsumo e nós não podemos achatar o consumo de quem não consome."

Alencar enfatizou que os objetivos do Banco Central não devem apenas estar ligados à inflação. "É claro que o combate à inflação é importante. Mas é preciso aproveitar a potencialidade de crescimento da economia brasileira, gerar mais empregos porque, do contrário, nós vamos aplicar uma taxa de juros muito alta e que inibe o consumo", observou.

REFORMA AGRÁRIA

Acompanhado do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, do governador do Paraná, Roberto Requião (PMDB), e dos senadores Osmar Dias (PDT-PR) e Flávio Arms (PT-PR), o presidente em exercício também defendeu que a reforma agrária no País seja realizada pela via do cooperativismo.

"A reforma agrária é um compromisso nacional. O ideal é que fizéssemos a reforma agrária dentro do espírito associativo, do cooperativismo", disse.