Título: Irados, paraguaios defendem seus cursos
Autor: Mariana Caetano Colaborou: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Nacional, p. A10

O alerta da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes) sobre o risco de títulos de pós-graduação oferecidos no Paraguai não serem válidos no Brasil provocou a ira de reitores de universidades paraguaias e obrigou a embaixada brasileira no país a divulgar uma nota de esclarecimento. Sobrou até para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo um senador paraguaio, "dificilmente" Lula será um "exemplo de superação cultural e competitividade acadêmica" para os jovens brasileiros. Conforme revelou o Estado, empresas nacionais estão arregimentando alunos para cursos de mestrado e doutorado de qualidade duvidosa oferecidos em universidades de Assunção, capital do Paraguai. "Renato Janine Ribeiro é um medíocre professor de filosofia política que foi escalando posições, não como fruto do seu talento, mas amparado por privilégios obtidos no setor público", afirmou o senador e reitor da Universidad del Norte, Juan Manuel Marcos, referindo-se ao diretor de avaliação da Capes. "Dificilmente o querido e fraterno povo do Brasil, e em especial sua juventude, poderá encontrar exemplos edificantes de superação cultural e competitividade acadêmica neste fóssil do velho estatismo universitário, e nem em um presidente da República que nunca pisou numa universidade."

Juan Marcos é reitor de uma das universidades que tem recebido alunos reunidos por empresas brasileiras para os cursos de férias em Assunção. As críticas foram publicadas pelo jornal paraguaio ABC Color. Os alunos pagam caro e inscrevem-se nos cursos com a promessa de que terão os títulos automaticamente reconhecidos no Brasil. Em geral, as aulas são ministradas em português, seis semanas por ano, em janeiro e julho. Na elaboração da tese, não há acompanhamento direto de um professor.

O reitor da Universidad Autónoma de Asunción, Julio Martin, disse que a recusa em reconhecer os títulos paraguaios é desconhecer tratados internacionais assinados pelo Brasil. "Se dá razão àqueles que opinam que o Mercosul são só papéis e letra morta."

Qualquer título concedido por instituição estrangeira tem de passar por uma revalidação no Brasil. Isso vale inclusive para as nações do Mercosul. Foi isso o que ressaltou a embaixada brasileira no Paraguai, por meio de nota em sua página na internet, depois da repercussão da notícia publicada pelo Estado. A embaixada evitou qualquer referência à qualidade das aulas. Mas, de acordo com a advertência distribuída pela Capes, as características dos cursos paraguaios tornam muito difícil que eles sejam reconhecidos por aqui.

"Não temos preconceito nenhum contra o Paraguai", reagiu Renato Janine Ribeiro, recusando-se a comentar os adjetivos usados por Manuel Marcos. "A Capes nunca vai avaliar um curso no exterior, isso é da soberania de cada país, mas todos têm de saber que não haverá reconhecimento automático." A revalidação dos títulos está prevista na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, avisa ele. "Se os cursos forem bons, serão válidos aqui, não há problema."

Ele também negou que a Capes esteja descumprindo qualquer tratado internacional. Explicou que o Mercosul prevê que os títulos serão reconhecidos para estrangeiros para efeito de novos cursos. "Se um paraguaio quiser fazer doutorado aqui, por exemplo, ele terá seu mestrado reconhecido para tentar o novo título."