Título: Falta de oásis em Brasília incomoda líderes árabes
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Nacional, p. A12

Os chefes de Estado árabes e sul-americanos que desembarcam dentro de um mês em Brasília estarão longe de encontrar um cenário das mil e uma noites no cerrado. Os árabes, em especial, terão de reduzir os seus padrões de exigência e se resignar às acomodações menos sofisticadas que as disponíveis em outras cidades do Brasil e, seguramente, nas capitais da Europa e em Buenos Aires. A questão é simples: dos nove hotéis que contam com suítes presidenciais em Brasília, nenhum se aproxima do conforto e luxo com que parte dos líderes está acostumada. A situação já provocou alguns constrangimentos para o Itamaraty. Há cinco dias, uma assessora do secretário-geral da Liga Árabe, Amre Mussa, exclamou "só isso?" ao contemplar a suíte presidencial do hotel Blue Tree, onde seu chefe foi acomodado.

No final de novembro, o rei do Marrocos, Mohammed VI, desembarcou em Brasília com quatro aviões para uma visita oficial. Trouxe os próprios móveis, cortinas e tapetes e TVs de plasma.

Hospedado no mesmo hotel, considerado hoje o mais sofisticado de Brasília, o monarca comentou, bem-humorado, que havia considerado "exótico" alojar-se de maneira tão despretensiosa à beira do Lago Paranoá.

CUSTO

A organização do evento deverá consumir boa parte dos R$ 14 milhões reservados no Orçamento do Itamaraty para eventos neste ano. O ministério pagará as contas de quatro suítes por chefe de Estado, uma das quais ocupada por agentes da Polícia Federal.

Brasília foi escolhida para a reunião como forma de chamar atenção à capital brasileira, que ainda é confundida mundo afora. Mas também foi uma alternativa aos problemas de trânsito e segurança de São Paulo e Rio, cidades com melhor estrutura hoteleira.

O descompasso dos hotéis de Brasília não está na questão do espaço, mas no luxo e requinte. Voltada para a Place Vendôme, a suíte imperial do Ritz, por exemplo, não tem hidromassagem, mas a decoração Luís XV e os serviços justificam a diária 4.500 a 8.500.

A suíte real do Alvear Palace, em Buenos Aires, exibe pratarias argentinas, sofisticada decoração e uma cozinha com entrada separada que muito agradaria Mohammed VI - a US$ 3.000 a diária. Esses cenários não são nada parecidos com os que se vê nas suítes de Brasília, que privilegiam decorações mais modernas e clean e cobram preços mais módicos.

Paralelamente, os hotéis começaram um esforço para aprimorar as suítes presidenciais e até mesmo improvisar algumas. Um dos hotéis comprometeu-se a montar uma sala de orações de 400 metros quadrados, apontada para Meca. O Itamaraty deverá promover uma palestra à rede hoteleira local sobre usos e costumes do Islã.