Título: Polícia indicia 17 do MST por tortura e morte em Pernambuco
Autor: Angela Lacerda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Nacional, p. A16

Quinze assentados ligados ao Movimento dos Sem-Terra (MST) e duas ex-lideranças do movimento foram indiciados por crimes de homicídio, tortura, cárcere privado ou danos materiais no inquérito policial que investigou a morte do soldado PM Luiz Pereira da Silva, no dia 5 de fevereiro, no Assentamento Bananeiras, em Quipapá, a 200 quilômetros do Recife. Eles também foram indiciados por tortura e cárcere privado do sargento PM Cícero Jacinto da Silva. O delegado Antonio Carlos Câmara, que presidiu o inquérito, pediu a prisão preventiva de 8 dos indiciados: os 2 acusados de homicídio - Nilson Balbino da Silva e José Luiz Alexandre, que estão foragidos; José Ricardo Oliveira Rodrigues, apontado como pivô do conflito e indiciado por concurso no homicídio e no cárcere privado; José Luiz Alexandre, José Wellington Souza Filho, José Fábio da Silva, José Fagne da Silva (todos cumprindo prisão temporária) e Manoel Alves da Silva. Eles são acusados de participação direta ou omissão nos crimes de tortura e cárcere privado e Fábio, por danos materiais e cárcere.

O inquérito foi aberto no dia 10 de fevereiro e entregue anteontem no fórum de Quipapá. Nele, o delegado considera "imprescindível" a "punição exemplar para os imputados, sob pena de que em um futuro próximo, assentamentos como estes se tornem verdadeiras espécies de Farc (Forças Revolucionárias da Colômbia) à brasileira". A promotora de Quipapá, Giovana Mastroiani, que acompanhou todos os depoimentos, decide, na próxima semana, se oferece denúncia à Justiça. O crime de homicídio prevê pena de até 30 anos e os de tortura e cárcere privado, de 2 a 8 anos.

Acusado de participação em assaltos, José Ricardo - ex-líder do MST na região - foi perseguido no dia 5 de fevereiro, pelo soldado Luiz Pereira, sargento Cícero Jacinto e soldado PM Adilson Alves Aroeira - único que conseguiu fugir. Eles estavam à paisana (de bermudas e sem camisa), num carro descaracterizado. José Ricardo levou-os ao Assentamento Bananeiras, onde chegou pedindo socorro porque os policiais iriam matá-lo. Os assentados tiraram as armas dos policiais, mataram o soldado, deixaram o sargento por 6 horas em cárcere privado e praticamente destruíram o veículo.

Ao se entregar à polícia, em março, José Ricardo disse que ia ser morto devido a uma rixa com Jacinto - que acusou de ter comprado lote de um assentamento - e denunciou a direção do MST e o principal líder, Jaime Amorim, de desvio de verbas da reforma agrária. Segundo Ricardo, ele e seu irmão José Sérgio, ex-dirigente estadual, foram expulsos do MST por saber das irregularidades.

ABRIL

O MST realizou ontem a 15.ª ocupação no "abril vermelho", em Pernambuco. A Fazenda Santo Antônio, de 860 hectares, em Pedra, no Agreste, foi invadida por 50 famílias. A área foi ocupada pela primeira vez em 2002 e no ano passado os sem-terra foram despejados.