Título: IPCA sobe e meta fica mais distante
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Economia, p. B1

Os preços administrados elevaram o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,61% em março, ante 0,59% em fevereiro. Tarifas de ônibus urbanos em São Paulo e Porto Alegre foram as que mais subiram (5,02%), junto com água e esgoto (4,42%). O impacto desses itens somados é de 0,33 ponto porcentual, mais da metade da taxa. Só no primeiro trimestre, o IPCA, referência para a meta de inflação do governo, acumulou alta de 1,79%, mais de um terço da meta de 5,10% estipulada para este ano. Em 12 meses até março, a taxa acumulada é de 7,54%. A gerente do Sistema de Índices de Preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos, destacou que a inflação no primeiro trimestre foi marcada pela estabilidade.

A taxa de março veio dentro do esperado pelo mercado financeiro (de 0,50% a 0,70%), mas, como esteve acima da média das expectativas (0,58%), estimulou especulações sobre um novo adiamento para a reversão da curva de alta na taxa básica de juros (Selic).

"No que se refere à política monetária, o que se pode afirmar é que os dados de inflação corrente com os quais o Banco Central se deparará na próxima reunião do Copom são piores do que os avaliados na reunião de março", concluem os economistas do Bradesco, em relatório da instituição.

Eulina, mais otimista, sublinhou que o IPCA desacelerou de 0,86% em dezembro para ao redor 0,60% nos três primeiros meses de 2005: 0,58% em janeiro, 0,59% em fevereiro e 0,61% em março. "A taxa do IPCA está estabilizada em 0,60% e esse é um dado relevante", disse.

Ela, porém, já listou uma série de pressões para o índice de abril, como os resquícios dos reajustes dos ônibus, alta das tarifas de energia elétrica em algumas regiões metropolitanas e das de telefone fixo para celular e dos remédios.

Segundo a gerente do IBGE, a despeito dos temores do mercado com a inflação, as pressões dos reajustes das commodities (como soja) no atacado, reveladas pelos recentes Índices Gerais de Preços (IGPs), ainda não chegaram ao varejo. Ao contrário, os produtos alimentícios contribuíram para conter a inflação em março, sob efeito positivo da queda do dólar e da plena comercialização da safra.

Eulina disse que os dados do IPCA de março mostraram também que "não há visibilidade de efeito da demanda" nos preços. A variação dos alimentos desacelerou de 0,49% em fevereiro para 0,26% em março. Os exemplos da influência do dólar nessa queda são a farinha de trigo (-1,50%), óleo de soja (-1,01%), bacalhau (-3,25%) e pão francês (-1,55%). A safra influenciou as hortaliças (-4,23%), feijão carioca (-2,09%) e carnes (-0,50%).

Apesar dessas quedas importantes, houve pressão no IPCA de produtos como combustíveis, que cessaram o movimento de deflação. A gasolina passou de queda de 0,79% em fevereiro para alta de 0,70% em março.