Título: 'Persistam como os corintianos'
Autor: Jander Ramon
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Economia, p. B5

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, recomendou aos exportadores que sejam persistentes como os corintianos para enfrentar as dificuldades para atender seus contratos, após a valorização do real ante o dólar. "Tem que ter persistência. Como corintiano que sou, acredito até o fim", disse o ministro, empolgado com a vitória de 5 a 1 aplicada anteontem pelo Corinthians sobre o Cianorte, do Paraná, e que garantiu a classificação do time paulista para a próxima fase da Copa do Brasil. Furlan participou ontem de reunião com a diretoria do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp). "Tenho um irmão que é conselheiro do Palmeiras e, de vez em quando, vou com ele ao estádio. Quando chega aos 25 minutos do segundo tempo, o palmeirense vai embora, porque joga a toalha. Corintiano fica até o último minuto porque sabe e acredita que sempre pode vencer", comparou. O ministro recebeu aplausos da platéia, formada por mais de 300 empresários, mas depois também teve de ouvir provocações. Como a de um empresário que declarou-se persistente como o filho "argentino" de Furlan. Diante da expressão intrigada do ministro, explicou: "Filho argentino não, corintiano." Furlan riu junto com a platéia, mantendo o espírito esportivo.

O ministro disse que tem se empenhado para sensibilizar o governo sobre os riscos da valorização do real, sobretudo para o desempenho das exportações. "O presidente Lula está sendo sensibilizado sobre as dispensas de pessoal realizadas por algumas empresas. Continuarei a fazer essa sensibilização, mas não quero entrar em polêmica", afirmou.

Furlan lembrou que já se manifestou publicamente sobre o mercado de câmbio no Brasil e que não pretendia retomar as queixas. Ressalvou, entretanto, que a valorização do real acerta "assimetricamente" as exportações, dependendo do tipo de setor e do mercado a ser abastecido.

MOEDAS

Sugeriu aos empresários que priorizem tecnologia e inovação nos negócios, para terem maior capacidade de repassar aos compradores eventuais altas de custos. Além disso, lembrou, ao substituir as operações comerciais em dólar para outras moedas, como o euro e o iene, os exportadores obtêm "uma vacina contra o dólar".

Furlan reconheceu ainda que segmentos de produção pulverizada, caso dos setores de calçados e autopeças, enfrentam maiores dificuldades para manter os contratos de exportação, pois não conseguem impor reajustes de preços aos compradores. "A dificuldade nestes segmentos é enorme."

O ministro fez uma avaliação positiva sobre o manifesto divulgado ontem por 23 associações de exportadores, cobrando a adoção de medidas governamentais para conter a valorização do real. Entre as medidas, os exportadores querem que o Banco Central (BC) retome os leilões de compra de dólar para a formação de reservas, bem como os leilões de swap cambial reverso, mudem os sistemas de financiamento para as importações e criem um sistema de Antecipação de Contrato de Câmbio (ACC), a ser ofertado pel os bancos brasileiros com o funding em reais e denominação do contrato em dólar. "A reunião sobre o câmbio apresentou propostas e boa parte delas é bem fundamentada e exeqüível. Agora, é questão de convencimento."