Título: Prefeitos: se for petróleo, é nosso
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/04/2005, Economia, p. B12

Município de Carlópolis e Joaquim Távora, no Paraná,

disputam direito de exploração de poço descoberto pela Sanepar

Evandro Fadel

Ainda não se sabe se a exploração de petróleo no norte do Paraná é economicamente viável. Mas a disputa pelo poço aberto pela Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar), do qual brotou óleo em vez de água, está acirrada. O prefeito de Carlópolis, Isaac Tavares da Silva, mandou ofício ao colega da vizinha Joaquim Távora, Willian Walter Ovçar, o Vatão, pedindo que retificasse informações sobre a localização da descoberta. "Não interessa se o petróleo vai jorrar ou não, se tem valor comercial ou não. O que interessa é que existe um poço e está em Carlópolis", afirmou Silva. Ele juntou documentos para provar que o sítio de Áurea de Oliveira Gomes, que deu permissão para a Sanepar perfurar o poço em 1986, fica no distrito de Ribeirão do Meio. "Não posso admitir que meu município seja violado em sua soberania de divisa", acentuou Silva. Todos aguardam análises para saber se haverá interesse na exploração comercial. "Mas no momento quem tem somos nós. Nós somos os xeques", brincou. Silva fez questão de afirmar que a amizade com o prefeito de Joaquim Távora não vai ser abalada. "Não tem guerra de jeito nenhum. Somos amigos e de paz."

Do outro lado da divisa, Vatão reconheceu que o poço está em Carlópolis. "Mas fica próximo da divisa", ponderou. Por cerca de 600 metros ele perdeu a posse. No entanto diz que, apesar de estar no município vizinho, o poço só existe porque o distrito de São Roque do Pinhal precisa de água. "Se não fosse pelo meu município não seria perfurado", argumentou. Ele ressaltou que só concedeu entrevistas por ter sido procurado. "Nossa intenção não é prejudicar Carlópolis, até porque se houver exploração será importante para toda a região", afirmou.

A disputa tem razão de ser. Ambos estão de olho nos royalties caso a exploração se viabilize. Joaquim Távora tem um orçamento mensal de R$ 500 mil e população de 9,7 mil habitantes, enquanto Carlópolis trabalha com R$ 840 mil por mês para atender 14 mil pessoas. Desse valor, R$ 45 mil já são provenientes de royalties, por ter cedido um quarto de terra para a construção da Represa Xavantes.

Mas o pesquisador do Laboratório de Análises de Bacias e Petrofísica da Universidade Federal do Paraná, Fernando Mancini, não aconselha o otimismo. "O histórico da bacia mostra que é difícil ter reservas economicamente viáveis", acentuou. Segundo ele, a região possui rocha geradora de hidrocarbonetos, mas não rocha reservatório, que garantiria a viabilidade econômica.

Além disso, ele disse que o óleo enviado à Agência Nacional do Petróleo (ANP) para análise "visualmente parece não ser de boa qualidade".