Título: Aldo ficou no ministério, mas sem a caneta milagrosa
Autor: Christiane Samarco , João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Nacional, p. A4

Lula manteve com o PT, e na Casa Civil, o poder de mexer no mapa dos cargos de terceiro escalão Brasil afora

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrentou a pressão do PT e contrariou os companheiros, confirmando o ministro Aldo Rebelo (PC do B) na Coordenação Política. Em contrapartida, porém, não tirou do seu PT aquilo que os próprios petistas consideram a principal ferramenta da política na articulação, negociação e cooptação de aliados no Congresso: a caneta das nomeações. "Eu não administro conflito de cargos. Anoto as reivindicações e peço para encaminhar tudo para a Casa Civil", diz o ministro Aldo a quem o procura com pedidos e reclamações. Quem tem o mapa dos cargos de terceiro escalão Brasil afora é uma assessora do ministro José Dirceu na Casa Civil, Sandra Cabral. Mas a decisão não é descentralizada como nos tempos de Marcelo Sereno, que acumulava seu posto no Planalto com a Secretaria de Comunicação do PT. Hoje, quem dá a palavra final nos pedidos de cargos e na administração dos conflitos entre os aliados é o próprio ministro Dirceu.

No caso de cargos de peso no segundo escalão federal, como presidências e diretorias de estatais, o próprio presidente Lula tomou para si a prerrogativa de nomear aliados. Foi assim com o PP, que ficou fora do ministério mas, de lá para cá, ganhou de Lula uma diretoria da Petroquisa e duas vice-presidências da Caixa Econômica Federal. José Maurício Cavalcanti, filho do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi para a delegacia do Ministério da Agricultura em Pernambuco.

Com a ferramenta das nomeações fora de seu alcance, resta ao ministro Aldo administrar a base governista com o poder de fogo limitado dos recursos para as emendas ao orçamento da União, que atendem às bases eleitorais dos políticos com pequenas obras. Também pode ganhar simpatia e votos para o governo ajudando os deputados a negociar, nos ministérios, convênios com prefeituras.

A situação não seria complicada se a atuação paralela de Dirceu ficasse restrita à administração da partilha do poder entre os aliados.

A questão é que Dirceu também faz a interlocução política e é a ele que o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), e os governadores do partido têm procurado para resolver pendências dos Estados com o Executivo federal nos últimos dias. Foi Temer quem acompanhou a governadora do Rio, Rosinha Matheus, ao gabinete de Dirceu por duas ocasiões, depois que Aldo foi confirmado na Coordenação Política.