Título: Em Assis, Lula prega desapego a bens materiais
Autor: Expedito Filho,Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Nacional, p. A6

Chamado de caótico e não católico pelo cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, d. Eusébio Scheid, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou ontem a Basílica de São Francisco, em Assis, e se comportou como uma verdadeiro franciscano. Lula, que foi à Itália para o funeral do papa João Paulo II, agradeceu a oportunidade de conhecer melhor a história de São Francisco, defendeu o despojamento do santo patrono de Assis e se disse mais uma vez emocionado. "Eu penso que o grande sucesso de cada ser humano que passou pela Terra é o despojamento pelos seus interesses por coisas materiais e sua disposição de repartir com os que não têm", afirmou. O presidente recebeu do padre uma lâmpada com uma vela acesa, símbolo da paz universal que foi dada à Basílica pelo papa, em 2002. Essa foi a primeira vez que a Basílica de Assis entrega a um presidente o presente de João Paulo II à igreja. Ele, porém, levou apenas uma cópia do símbolo.

Lula disse que deixava Assis de alma lavada ao ouvir mais sobre a história de São Francisco: "Ele foi capaz de fazer um gesto que todos nós que passamos pela Terra somos obrigados a levar em conta."

O presidente, que chegou a Assis numa Mercedes prata, cercado por seguranças, se referia ao voto de pobreza do religioso que enfrentou o papa da época e os setores dirigentes da Igreja com sua posição a favor dos pobres. "Somente com essa visão do mundo, o ser humano será capaz de dormir com a consciência tranqüila."

A visita de Lula foi organizada no dia anterior, depois de receber de presente uma caixa de charutos Romeu e Julieta Churchill, do presidente da Assembléia de Cuba, de valor inestimável. A comitiva teve problemas para organizar a programação em pleno sábado após o funeral do papa. A opção foi visitar a cidade santa, antes de seguir para Perugia.

O presidente ainda descerrou o pano sobre uma obra de arte do italiano Franco Ciuta, na praça em frente à basílica. O Amor Solidário - uma gravura esculpida em metal -, porém, já estava sendo exibida há seis meses. A idéia da reinauguração foi de um velho amigo de Lula, o frade Décio Pires, companheiro do presidente na época em que ele era sindicalista. "Há 15 anos não vejo Lula. Ele está igualzinho."

Não se sabe até que ponto o presidente tem planejado seus atos religiosos, mas o certo é que, desde que chegou à Itália, Lula tem deixado claro o quanto é católico praticante. Ele comungou na missa de corpo presente do papa, declarou-se um homem sem pecados e, ontem, culminou sua peregrinação com a visita a um dos locais de maior importância para a Igreja.

Em Perugia, Lula teve encontro com governadores italianos e evitou o registro dos jornalistas. Ele fechará sua visita à Itália hoje, num café da manhã com o líder de oposição, o socialista Massimo D'Álema.