Título: 'A idade vem chegando, mas contribuir não compensa'
Autor: Paulo Pinheiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Nacional, p. A10

Murilo Messias da Silva, de 53 anos, e a mulher Marinete Maria da Silva, de 51, têm pouco tempo para pensar em aposentadoria. Os dois trabalham desde 1978 como ambulantes no Largo de Pinheiros, em São Paulo, e todo o dinheiro vai para a regulamentação da barraca e para as dívidas domésticas. Os dois filhos são a perspectiva de futuro do casal, que nem sonha com tranqüilidade na velhice. "Não tenho como contribuir. A gente vai ficar trabalhando até quando Deus permitir", conta Marinete. O marido, que já contribuiu por 17 anos quando era registrado, tem a mesma descrença na Previdência Social: "A idade vem chegando, mas contribuir com um salário não compensa. Hoje, quem ganha isso passa fome".

O taxista Celso Ferreira de Souza, de 36 anos, está há dez meses na praça e até agora não contribuiu para a própria aposentadoria. "Ainda não consegui guardar o suficiente, pois tinha dívidas anteriores."

Ele garante, no entanto, que vai contribuir no próximo mês. "Para eu poder comprar carro com isenção de IPI e ICMS, é preciso pagar o INSS por oito meses. O governo atrelou as duas cosias", explica. "No momento, vou contribuir com o valor mínimo, porque assim não pesa muito." Para o taxista, as despesas com a família contam mais que a preocupação com a velhice. "Quando estiver com mais idade, irei a um especialista em Previdência para saber o que é melhor."