Título: Após 4 meses de namoro, relação entre presidentes começou a esfriar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Nacional, p. A4

Quando ainda era candidato à Presidência, em abril de 2003, Néstor Kirchner foi a Brasília, onde recebeu apoio explícito do governo Lula, a pedido de seu padrinho político, o então presidente Eduardo Duhalde. A imagem de Kirchner sendo recebido afetuosamente no Planalto por Lula - que na época, segundo várias pesquisas, contava com mais popularidade entre os argentinos do que os principais políticos do país - aumentou pontos para o candidato, que se elegeu e tomou posse dois meses depois. Os primeiros meses foram de intenso idílio com Lula. Mas, a partir de agosto de 2003, a relação começou a esfriar, já que o presidente argentino se melindrou com a falta de apoio explícito de Lula nas duras negociações que seu país enfrentava com o FMI.

Para tentar melhorar a relação, em outubro Lula foi a El Calafate, na província natal de Kirchner, Santa Cruz, na Patagônia. Sorridentes, os dois posaram para fotos diante da geleira Perito Moreno e saborearam o cordeiro patagônio, iguaria local muito propagandeada pelo presidente argentino.

Mas nos meses seguintes a relação voltou a esfriar. Em julho, horas antes da reunião de cúpula de presidentes do Mercosul, na cidade argentina de Puerto Iguazú, Kirchner anunciou que aplicaria medidas de proteção contra a entrada de eletrodomésticos brasileiros. O anúncio caiu como um balde de água fria na comitiva brasileira.

Neste fim de semana, o governo argentino anunciou que a nova frente de batalha seria o setor de calçados. O secretário de Indústria e Comércio, Miguel Peirano, disse que poderia tomar medidas daqui a "30 ou 40 dias" contra "a invasão" de calçados brasileiros.

EMPRESAS

Kirchner também lançou ofensiva contra empresas brasileiras que estão comprando argentinas. No ano passado, ameaçou complicar a vida da Petrobrás na Argentina, caso ela não colocasse fundos para a ampliação de um gasoduto crucial para a economia argentina.

Nos últimos dias, após o anúncio da venda da empresa de cimento Loma Negra à brasileira Camargo Correa, o governo argentino começou a analisar formas de impedir a operação. Com a compra, a Camargo Correa passaria a dominar 48% do mercado local de cimento. Informações extra-oficiais indicam que a venda não seria aprovada pela Comissão Nacional de Defesa da Concorrência.