Título: Uma festa de cobranças para Lula no ABC
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Nacional, p. A6

Metalúrgicos atacam reforma sindical e pedem política industrial que livre trabalhador de sobressaltos; presidente da Volks pede liberação de créditos por exportações Na festa dos 15 milhões de carros produzidos pela Volkswagen, em 52 anos de operação no País, o presidente Lula reviu companheiros que com ele nos anos 70 fizeram piquete nos portões da fábrica de São Bernardo do Campo, emocionou-se diante de um TL - igual ao antigo modelo que abrigou "muito namoro com Marisa Letícia" -, desfilou em um Fox Europa exportação, e ouviu cobranças de todos os lados. Cobrança dos metalúrgicos que lotaram a ala 14 da Volks, ontem cedo, e estenderam faixas contra a reforma sindical e pela "correção já" do Imposto de Renda. Cobrança do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, José Lopez Feijóo, por "uma política industrial em que o trabalhador não tenha de viver de sobressaltos, de crise em crise".

Ouviu o presidente da Volks no Brasil, Hans-Christian Maergner, elogiar o governador Geraldo Alckmin (PSDB) e cobrar medidas para liberação de recursos acumulados de ICMS relativo às exportações. "Contamos com essa decisão", asseverou o empresário. "E vamos honrá-la, trabalhando e crescendo ainda mais."

Lula respondeu a todos com discurso tranqüilo. Enquanto um pequeno grupo entoava "Você pagou com traição a quem sempre lhe deu a mão", ele se voltou para Maergner. "Quero dizer ao presidente da Volks que não temos nenhum problema de discutir toda e qualquer política que possa ajudar a dinamizar os setores da indústria brasileira", disse.

"Durante 20 anos se disse neste país que não se precisava de política industrial, que era uma coisa a ser definida pelo mercado, pela concorrência; agora, definimos que o Brasil precisa de política industrial", destacou.

Ele pregou a extensão dos negócios e parcerias. "O Brasil precisa cada vez mais tornar plural a sua relação comercial para que a gente possa estabelecer acordos com a União Européia e os Estados Unidos, criando novas frentes de exportação", enfatizou. "Estamos construindo uma solidez de política econômica e de comércio exterior."

Ilustrou com números sua afirmação. "Em 10 anos, a média de geração de emprego na indústria era de 8 mil por mês. Nestes últimos 24 meses, estamos criando 91 mil empregos a cada mês, 2,4 milhões empregos com carteira assinada." Quando falou das exportações, recomendou: "Precisamos ter mais ousadia, sermos mais arrojados."

E falou da reforma sindical. "Espero que o movimento sindical me lembre e me convoque para discutir as coisas que têm de ser feitas, não é possível que alguém defenda a estrutura de hoje, porque ela é cópia fiel do modelo de Mussolini."

Antes de desfilar pela empresa em carro aberto, ele não conteve a emoção ao ouvir a saudação de Maergner. "Foi daqui do ABC que o jovem presidente do Sindicato dos Metalúrgicos chamado Lula decolou para cumprir uma brilhante carreira política", afirmou o presidente da Volks. "As imagens da atuação do hoje presidente da República nos portões da fábrica Anchieta daqueles anos são o símbolo de uma época que definiu o Brasil democrático de hoje."