Título: Brasil terá de decidir se aceita inspeção rigorosa
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Internacional, p. A10

A escolha do diplomata Sérgio de Queiróz Duarte para presidir a 7.ª Conferência de Revisão do Tratado de Não-Proliferação Nuclear reflete tanto o desejo do Brasil de afirmar a posição de liderança no campo da não-proliferação quanto o reconhecimento internacional do papel que assumiu nessa área. Um dos últimos signatários do TNP, o Brasil aderiu em 1997, quando se concluiu que a rejeição era incompatível Constituição de 1988. Ainda assim, a decisão continua atravessada na garganta de nacionalistas, alguns deles hoje abrigados no governo do PT. Uma das questões que o Brasil de Lula terá de decidir à luz dos resultados da conferência é se assinará o Protocolo Adicional ao TNP. Adotado em 1997, estabelece um regime mais intrusivo de inspeções pela Agência Internacional de Energia Atômica a instalações nucleares dos países, incluindo visitas de surpresa.

Outro desafio para o País é como responder às pressões crescentes de especialistas no assunto, especialmente nos EUA, em favor da suspensão do programa de produção de urânio levemente enriquecido, em Resende. O argumento, compartilhado por democratas e republicanos, foi resumido recentemente pelo ex-secretário de Estado adjunto para a América Latina, Bernard Aronson, num artigo no Wall Street Journal.

Aronson, que é próximo do vice-secretário de Estado, Robert Zoellick, pediu que o Brasil "lidere pelo exemplo" e abandone o projeto de Resende. Ele ligou o comportamento do País nesse assunto às aspirações brasileiras a uma cadeira permanente no Conselho de Segurança na ONU.

A administração Bush não se associou às críticas ao programa brasileiro. A secretária de Estado, Condoleezza Rice, reiterou que os EUA não têm preocupações nesse sentido. Nos bastidores do governo, contudo, a expectativa refletida por Aronson está viva. Um exemplo disso foi a reação provocada pela carta que o embaixador do Brasil em Washington, Roberto Adbenur, enviou ao Wall Street Journal, no mês passado, rejeitando a proposta de Aronson como "inaceitável" e "injustificável". "Foi uma reação típica do Itamaraty, uma grande oportunidade perdida", disse ao Estado alta fonte da Casa Branca. De acordo com a fonte, Washington não fará nenhuma pressão pública sobre o assunto, porque sabe que isso daria munição aos setores nacionalistas do governo e dificultaria uma evolução gradual da posição brasileira.