Título: Irã envia chanceler para contra-ataque diplomático
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Internacional, p. A10

O Irã pretende montar uma sólida defesa de seu programa de energia nuclear para a conferência internacional que começou ontem, e insistirá nos direitos à mesma tecnologia concedida a todos os membros do Tratado de Não-proliferação Nuclear (TNP), disse um alto funcionário iraniano. A contra-ofensiva de alto nível, a ser conduzida pelo ministro de Relações Exteriores do Irã, Kamal Kharrazi, surgiu em antecipação a um duro discurso do governo Bush, pedindo medidas internacionais contra o Irã a menos que Teerã revele aspectos sensíveis de seu programa nuclear. O embaixador do Irã nas Nações Unidas, Javad Zarif, disse que os esforços nucleares de seu país são pacíficos e estão perfeitamente dentro de seus direitos. Kharrazi, que se pronunciará durante a conferência hoje, passará boa parte desta semana discutindo a questão com diplomatas de todo o mundo.

A Casa Branca decidiu, há vários dias, enviar uma delegação de nível médio à ONU, onde diplomatas estudarão modos de fortalecer o Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Os organizadores da conferência tinham a esperança de que as crises com o Irã e a Coréia do Norte pudessem ficar em segundo plano. Mas o recrudescimento da retórica e das ações de todos os lados indicaram que as tensões estão crescendo e provavelmente dominarão o fórum.

A conferência, que acontece a cada cinco anos, surge num momento de aumento das tensões sobre o Irã e a Coréia do Norte. No domingo, a Coréia do Norte, que, acredita-se, teria meios para produzir pelo menos seis armas nucleares, inquietou seus vizinhos com um teste de míssil no Mar do Japão (Mar do Leste para os sul-coreanos).

Durante o fim de semana, autoridades iranianas disseram que não poderiam suspender seu programa de energia nuclear a menos que haja progresso em conversações com a Europa para resolver as preocupações com a crescente capacidade nuclear do país.

Para as autoridades americanas, que discutiram a estratégia da Casa Branca, esta conferência dificilmente poderia terminar em algum acordo e elas se dizem preparadas mais para o confronto e críticas. Na semana passada, Bush usou uma linguagem áspera para descrever sua frustração com Teerã e Pyongyang.