Título: Blair aprova em segredo modernização nuclear
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Internacional, p. A10

Mas informação vaza para imprensa e pode aumentar a desconfiança dos britânicos no líder trabalhista

O primeiro-ministro britânico, Tony Blair, aprovou em segredo a construção de uma nova geração de armas nucleares de dissuasão para substituir os velhos submarinos atômicos da classe Trident, a um custo de mais de US$ 20 bilhões, revelou ontem o jornal The Independent, acrescentando que a decisão, certamente, vai causar grande decepção aos simpatizantes do Partido Trabalhista a três das eleições gerais. A revelação de que a decisão já está tomada vai expor ainda mais a confiabilidade de Blair - que na campanha eleitoral em andamento vem se esforçando para apagar a imagem de mentiroso, resultante dos argumentos que ele usou para justificar a adesão da Grã-Bretanha à guerra do Iraque. Ele assegurara na semana passada que nenhuma decisão sobre a substituição dos Tridents seria adotada antes de 5 de maio.

Mas o Independent apurou que ele já havia aprovado o projeto, cuja finalidade é fazer com que a Grã-Bretanha continue sendo uma superpotência nuclear quando os Tridents perderem a validade, em 2024. A escolha do novo sistema de mísseis ainda é uma incógnita. Mas um candidato trabalhista definiu o novo plano de dissuasão nuclear do governo como "as armas de destruição em massa de Blair".

A revelação veio à tona num momento em que as Nações Unidas passam em revista o tratado de não-proliferação nuclear, do qual a Grã-Bretanha é signatária. Pelo tratado, as cinco potências nucleares prometem trabalhar para o desarmamento atômico global. Blair estará, portanto, diante de uma acusação de hipócrita, por fazer pressão sobre outros Estados, como Irã e Coréia do Norte, para que renunciem a supostos programas de armas nucleares enquanto planeja uma nova força de dissuasão para a Grã-Bretanha.

The Independent revelou também o envolvimento britânico na construção de uma fábrica de urânio enriquecido - matéria prima das bombas nucleares - no deserto do Novo México, nos Estados Unidos, avaliada em US$ 1,2 bilhão.

Os críticos argumentam que os dois programas vão aumentar consideravelmente a dificuldade para impor o princípio - do desarmamento nuclear - aos países acusados de alimentar planos que violam o tratado de não-proliferação. A propósito, a Casa Branca denunciou no fim de semana um novo teste norte-coreano no Mar do Japão (Mar do Leste, para os coreanos) com um míssil de curto alcance.

Um alto funcionário do Ministério da Defesa britânico tentou justificar a posição de Blair, assegurando que a decisão de substituir os Trident foi adotada recentemente. "As leis americanas não permitem que os EUA façam bombas para nós. Então, temos de fabricá-las..."