Título: Um posto de saúde particular para os carentes de Tibagi
Autor: Evandro Fadel
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Vida&, p. A26

Aos 39 anos, o empresário da construção civil Augusto Albani Batista prepara-se para abrir a porta de seu novo empreendimento. Diferente de tudo o que construiu até agora, pois é a concretização do sonho que começou a acalentar na infância. Nascido em uma família pobre, ele havia prometido, que, se algum dia melhorasse de vida, faria o possível para que outros não passassem pelas mesmas dificuldades. Em abril ele vai inaugurar um posto de saúde que atenderá gratuitamente a comunidade carente de Alto do Amparo, distrito de Tibagi, na região central do Paraná. Fruto de investimento pessoal de R$ 280 mil, a edificação terá 183 metros quadrados, contando com salas equipadas para clínica-geral, pediatria e odontologia, além de uma ambulância. Fruto de economias de mais de uma década. A manutenção, orçada em R$ 15 mil por mês, sairá da Construtora Prumo, com sede em Ponta Grossa, que lhe pertence.

"Por aqui estamos só de passagem e não levamos nada", sintetiza. As amizades que tem fizeram que 20 médicos e dentistas se prontificassem a ajudar voluntariamente no atendimento, que se estenderá a cerca de 1.800 pessoas que vivem nas proximidades do local, onde ele tem uma propriedade rural. "Vi a carência, vi gente morrer por falta de ambulância", conta.

DISPOSIÇÃO

Filho de um pai marceneiro e de uma mãe que se dedicava a cuidar de oito crianças, ele não reclama da infância. Serviu como estímulo para seus sonhos e como ensinamento para seu filho. "Eu digo a ele que nossa refeição às vezes era um virado de feijão com um ovo dividido entre todos", diz.

O primeiro dentista ele só foi ver quando tinha 14 anos. "Os remédios caseiros não resolviam mais e eu tive de tirar um dente", lembra-se. "Sei o que é passar dificuldade, por isso dói ver crianças que não têm pediatra, que não têm dentista", afirma.

Seu lema é fazer o bem sem olhar a quem. Compra remédios para quem lhe pede, já ajudou pessoas que necessitavam de exames complexos e até pagou os procedimentos para a retirada do tumor de um comerciante.

Batista diz ter ficado assustado quando jornalistas descobriram o que ele vinha fazendo. Hesitou em aceitar a divulgação, mas capitulou, por acreditar que há outras pessoas com mais condições financeiras que ele e talvez com a mesma disposição. "O que falta é apenas alguém começar", comenta.

Ele só não aceita que alguém faça qualquer ilação político-partidária de seus atos. "A minha política é fazer o bem sem fins eleitoreiros, sem desejar nada em troca", acentua. "A única recompensa que quero é ouvir alguém dizer: que Deus o ajude."

Emocionado, ele relata que esta semana comprou remédio para uma mulher. "E ela disse: 'Que Deus o ajude.' É tão gratificante", salienta. "Estou me realizando como homem." Não deixa, no entanto, de dar uma cutucada nos políticos: "Se deixassem de prometer e fizessem mais, tirariam a saúde da UTI."

Apesar de avesso à política partidária, Batista diz que está aberto a conversar com autoridades municipais para fazer parcerias e ajudar ainda mais. Já esteve com a secretária municipal da Saúde, Maria Isabel Teixeira do Valle Gomes.

"Quanto mais pessoas estiverem trabalhando e mais parcerias existirem é melhor", afirma Maria Isabel. Segundo ela, Tibagi está implantando as primeiras equipes do programa Saúde da Família e pretende atender a região de Alto do Amparo, que fica a 45 quilômetros da sede. Com 19 mil habitantes, Tibagi tem 12 postos de saúde e um hospital estadual, com 40 leitos, que estava interditado até o mês passado.

Os sonhos do empresário ainda não acabaram. Ele quer construir um posto de saúde semelhante em sua cidade natal, Pitanga, a alguns quilômetros de Tibagi. E já estuda uma forma de garantir emprego para a comunidade próxima de sua propriedade rural. Para isso tem um projeto para criar e industrializar suínos. "Tendo saúde e emprego, a pessoa vai ter dignidade."