Título: Perda do câmbio é repassada nos preços
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Economia, p. B1

As empresas exportadoras começam a elevar os preços de seus produtos no exterior para compensar parte das perdas com a valorização do real frente ao dólar. Mesmo correndo o risco de reduzir sua competitividade e perder participação no mercado mundial, esse expediente parece ser a única saída no momento para muitas empresas de diversos setores, diante da perda de rentabilidade e da decisão do governo de não intervir, por ora, no câmbio. Entre elas estão a Volkswagen, a fabricante de calçados Dumond e a Prensas Schüler. Maior exportadora de veículos do País, a Volkswagen já renegocia os contratos com clientes de 50 países, que estão para vencer, tentando elevar os preços em dólar. As vendas externas respondem pelo escoamento de 40% da produção da Volks. "Como esse volume é muito expressivo, não temos como sustentar uma situação dessas com o câmbio ao redor de R$ 2,60, mesmo com aumento da produtividade e ganhos de escala", afirma Leonardo Soloaga, gerente de Exportações da montadora.

A Volkswagen exportou no primeiro trimestre 53,4 mil veículos montados, o que representou um crescimento superior a 18% em relação ao ano passado (45,1 mil unidades). "Estamos cumprindo contratos que foram fechados no ano passado, quando o dólar era mais favorável às exportações".

Soloaga acrescenta que as negociações terão de ser feitas separadamente. No caso da América Latina, ele diz que será mais fácil, porque os países da região dependem do fornecedor brasileiro e as montadoras vão elevar os preços em bloco. Em outros mercados, como o Leste Europeu, África e Oriente Médio, deverá ser mais difícil, por causa da concorrência dos asiáticos.

O executivo não revelou os índices de reajuste pretendidos pela montadora, mas nos últimos 12 meses o dólar teve desvalorização de 10,36% frente ao real. A Volkswagen mantém a previsão de exportar este ano US$ 1,650 bilhão, 10% a mais do que em 2003.

Desde o início do ano, a fabricante de calçados Dumond elevou de 10% a 15% os seus preços no mercado externo. "Não tivemos outra alternativa", diz Eduardo Samaniotto, gerente de Exportação da empresa. "Isso prejudica a nossa imagem lá fora, pois os importadores já estão dizendo que o Brasil está se tornando um país caro."

Segundo ele, os reflexos do aumento nos preços foram quase imediatos. Nos primeiros três meses do ano, o número de pares de calçados vendidos pela empresa no exterior teve uma queda superior a 10%, embora a receita em dólares tenha se mantido praticamente estável em relação a igual período do ano passado. As vendas caíram principalmente em países que têm uma exposição maior a preços, como é o caso dos Estados Unidos e Canadá.

Com sede no município gaúcho de Sapiranga, a Dumond disputa mercado com calçados italianos e espanhóis, no segmento de maior valor agregado. "Tentamos entrar como uma opção de produtos de qualidade semelhante à deles, em alguns casos até melhor, e preços na faixa de 20% a 30% mais baratos". No ano passado, a empresa exportou o equivalente a US$ 10 milhões, com aumento de 40% em relação ao ano anterior. Para este ano, a previsão é manter esse valor.

A Schüler, fabricante de prensas mecânicas para estamparia da indústria automobilística, está com o primeiro semestre bastante carregado, devido a negócios fechados quando o dólar estava favorável. A empresa produz equipamentos sob encomenda, e entre os pedidos e os embarques passam-se de 11 a 12 meses. Os negócios são feitos com valor do câmbio da data de fechamento do negócio. Com a apreciação cambial, os preços precisam ser reajustados.

"Estamos tendo dificuldades nas negociações de novos projetos", diz Paulo Tonicelli, diretor administrativo-financeiro da Schüler. Ele conta que a empresa perdeu recentemente um negócio de US$ 8 milhões por causa do preço. Era uma máquina que seria vendida para uma empresa dos Estados Unidos.