Título: Lula sugeriu câmbio de R$ 3,10, mas dólar só cai
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Economia, p. B1

Em novembro do ano passado, em entrevista à agência de notícias americana Bloomberg, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou que seria ideal para a economia brasileira que a cotação do dólar subisse para o intervalo entre R$ 2,90 e R$ 3,10. Isso estimularia as exportações e ajudaria a economia a crescer, disse Lula. Os exportadores, que na época respiraram aliviados, perceberam nos últimos dias que o cenário idealizado pelo presidente está cada vez mais distante de se materializar. O dólar comercial completou na sexta-feira 11 dias consecutivos de queda e fechou em R$ 2,586, a menor cotação desde 21 de fevereiro deste ano. Só nos primeiros oito dias do mês a desvalorização do câmbio já soma 3,07% e, no período de um ano, a queda atinge 10,36%. De janeiro até agora, o recuo da moeda americana é de 2,56%.

Na avaliação de economistas, a expectativa é a de que o dólar deve continuar caindo se o Banco Central (BC) não atuar no mercado como vinha fazendo desde dezembro para recompor suas reservas. Mas os leilões de compra de dólar pararam em meados de março, assim como a oferta de swap (troca de indexadores) cambial reverso, paralisado há cerca de quatro semanas.

Segundo dados do mercado, entre dezembro e março deste ano, o BC comprou cerca de US$ 12,8 bilhões e reforçou suas reservas líquidas, calculadas em quase US$ 40 bilhões. Esse valor é bem superior ao esperado pelos analistas, mas inferior ao dos demais países emergentes do porte do Brasil. Um dos motivos para a queda do dólar está no vigoroso desempenho da balança comercial. Além disso, as elevadas taxas de juros estimulam as tesourarias dos bancos a vender dólar e migrar para aplicações atreladas aos juros. Isso tudo aumenta a oferta de dólar no mercado, enquanto a demanda está fraca.