Título: Exportador dribla queda do dólar
Autor: Patrícia Campos Mello
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Economia, p. B1

Apesar da choradeira dos empresários, as exportações brasileiras estão conseguindo se safar da queda do dólar. A moeda americana acumula desvalorização de 10,36% nos últimos 12 meses, mas as vendas externas teimam em crescer. No primeiro trimestre, as exportações bateram o recorde histórico, chegando a US$ 24,451 bilhões, um aumento de 27,8% em relação ao mesmo período do ano passado. A exportação de manufaturados, justamente o setor mais sensível às variações do câmbio, teve o melhor desempenho: crescimento de 39,7% no período.

Aproveitando a ótima demanda externa - a economia mundial, que teve crescimento anualizado de 2,9% no último trimestre de 2004, acelerou para 3,5% no primeiro trimestre deste ano, segundo estimativas do J.P. Morgan -, os exportadores estão elevando seus preços e compensando a queda do dólar.

"Aos olhos do exportador brasileiro, o mundo vai muito bem", diz Júlio Callegari, economista do JP Morgan. Quanto mais o dólar cai, mais os economistas revisam suas projeções para cima. O banco J.P. Morgan, por exemplo, projetava, em janeiro, um saldo comercial de US$ 31 bilhões em 2005. Agora, deve elevar a estimativa para US$ 35 bilhões.

A exportação de máquinas cresceu 60,9% no primeiro bimestre, em comparação com o mesmo período do ano anterior. As vendas externas de automóveis devem crescer 30% em 2005.

No caso dos produtos básicos, a alta dos preços internacionais mais do que compensou a desvalorização da moeda americana. O minério de ferro, por exemplo, subiu 71,5%. E, apesar da queda da receita de vendas de soja, a exportação do agronegócio deve se manter no mesmo nível do ano passado, acha Fábio Silveira, sócio-consultor da MS Consult. "A exportação de soja deve cair 15%, mas carnes, café e açúcar vão subir bastante."

Tudo isso não significa que as exportações brasileiras sejam imunes à variação do câmbio, como mostra o setor de calçados. A exportação de calçados caiu de US$ 172 milhões em março de 2004 para US$ 168 milhões em março deste ano. "Por causa do câmbio, ficamos menos competitivos e estamos perdendo contratos para a China", disse Élcio Jacometti, presidente da Abicalçados.

Segundo Newton de Mello, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), os exportadores estão apenas cumprindo os contratos fechados no ano passado, quando o câmbio era mais favorável. "Estamos fazendo um sacrifício medonho, na esperança de que o dólar vá subir."

"A lucratividade caiu, mas não inviabiliza os negócios", argumenta Callegari. "Se estivesse tão ruim, as empresas teriam reduzido as exportações e estariam vendendo mais para o mercado doméstico, que está aquecido."

Por enquanto, os calçados foram as únicas vítimas aparentes do câmbio. Nem a exportação de têxteis, apontada como uma das grandes prejudicadas pelo câmbio, caiu. No primeiro trimestre de 2005, as exportações de têxteis aumentaram 10,53% em valor.

As vítimas do câmbio, segundo Silveira, têm uma participação muito pequena na balança comercial, por isso ainda não causaram uma queda geral nas exportações. "Vamos dizer que as vendas externas de calçados caiam de US$ 1,8 bilhão para US$ 1,5 bilhão este ano. O que são US$ 300 milhões dentro de exportações de US$ 105 bilhões?", pergunta. "Mas é evidente que, se o dólar se mantiver abaixo dos R$ 2,70, as exportações como um todo vão sofrer."