Título: Capital de risco agora é prioridade
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Economia, p. B6

RIO-O governo, investidores e empresários estão preparando um plano para estimular o capital de risco, ou capital empreendedor no Brasil, que pode envolver aporte de recursos, redução de impostos e a criação de vários novos fundos. O capital empreendedor, voltado ao financiamento do segmento que vai desde empresas nascentes até médias e grandes de capital fechado, é considerado ferramenta fundamental do capitalismo moderno.

Nos Estados Unidos, empresas como Microsoft, Dell e Amazon devem sua existência e sucesso ao capital de risco, ou venture capital, a expressão em inglês usada mundo afora. No Brasil, o capital empreendedor está por trás de marcas como Gol, Submarino e Casa do Pão de Queijo.

O projeto de venture capital que está sendo montado se volta especialmente para o segmento de empresas nascentes, o menos desenvolvido no Brasil. Ele é resultado das atividades de um grupo de trabalho formado em outubro, e do qual participaram os Ministérios da Fazenda, Planejamento, Desenvolvimento e Ciência e Tecnologia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), fundos de pensão como Previ e Petros, Sebrae e Universidade de Campinas, entre outros.

"A experiência internacional mostra que o governo ocupa um papel indutor fundamental no deslanche de um setor de capital de risco no País", diz Edmundo Machado de Oliveira, assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Oliveira é o representante da Fazenda no grupo de trabalho, e foi nomeado coordenador-geral da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (Abdi). Ele frisa que o marco regulatório do venture capital no Brasil hoje já é de alta qualidade.

Algumas das idéias, sugestões ou iniciativas já em curso são as seguintes:

Aumentar os recursos federais para fundos de capital empreendedor, o que ainda precisa do sinal verde de Palocci. Fala-se em R$ 300 milhões no setor.

Redução da tributação sobre fundos de venture capital, hoje em 20% sobre o ganho de capital.

A criação de fundos de cotas em fundos de venture capital, para diluir riscos, com envolvimento do BNDES, Banco do Brasil, bancos privados, fundos de pensão e investidor estrangeiro.

A criação de um fundo de liquidez, para comprar as participações de empresas que não deram certo e receberam investimentos de fundos de empresas emergentes ou nascentes.

O lançamento do mercado de acesso da Bovespa, o qual pode ter apoio do BNDES, para facilitar a etapa final da cadeia do venture capital, que é a abertura de capital.

Todas essas iniciativas vêm num momento no qual o setor de venture capital no Brasil já está sendo impulsionado por vários eventos positivos. "É um momento animado, com perspectivas positivas e alta ansiedade", diz Álvaro Gonçalves, presidente da Abvcap. O BNDES, depois de uma fase de rejeição ao mercado de capitais durante a presidência de Carlos Lessa, voltou com carga total a este segmento, por decisão do novo presidente, Guido Mantega.

Junto com a Finep, o BNDES está estruturando o Criatec, um fundo de fundos de "capital semente", aquele voltado para empresas nascentes, recém-saídas de pranchetas universitárias ou abrigadas nas diversas incubadoras do País. Ao longo de três anos, o Criatec espera apoiar 500 empresas de tecnologia, investindo R$ 300 milhões, que serão alocados em 12 fundos de "capital semente".

Outro fato promissor é que os fundos de pensão começam a mostrar algum interesse pelo capital de risco. Recentemente, a Petros decidiu aplicar até 0,5% do seu patrimônio de R$ 26 bilhões em fundos de empresas emergentes nos próximos quatro anos. Isto corresponde a R$ 130 milhões. Numa primeira etapa, a fundação vai investir R$ 70 milhões em cinco fundos, dos quais um, da Rio Bravo, já foi escolhido. "Nossos motivos são o potencial de rentabilidade e também reforçar o mercado de capitais", diz Ricardo Malavazi, diretor financeiro da Petros.

No Brasil, segundo Oliveira, os investimentos em "capital semente" hoje são de cerca de R$ 10 milhões, subindo para cerca de R$ 300 milhões em empresas emergentes, e US$ 3 bilhões em private equity. Isto dá um total de apenas 0,002% do PIB, enquanto este indicador varia de 0,2% a 1,5% nos países desenvolvidos.

Segundo Álvaro Gonçalves, da Abvcap, há 15 fundos em atividade no momento, e mais 20 em processo de captação de recursos. Ele explica que o Brasil já teve algumas ondas de venture capital e private equity. Agora, porém, com a estabilidade da economia e a perspectiva de queda da taxa real de juros, ele espera que os investimentos cresçam sem as fortes oscilações do passado.