Título: Usina atrai até bóias-frias do Ceará e anima negócios
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Metrópole, p. C1

A família da comerciante Luzia da Conceição Tomáz, dona da única padaria de Borá, montou um pequeno restaurante no antigo depósito de farinha. As dez mesas de madeira vivem ocupadas. Luzia trouxe os sogros, Divino e Maria Belo Tomáz, e o cunhado, Luiz Carlos, para ajudar no atendimento. Estão servindo cerca de cem refeições por dia, incluindo as marmitas, levadas de carro para a usina. O marido de Luzia, Valdemir Tomás, de 37 anos, conheceu os donos da usina Ibéria no restaurante e se ofereceu para transportar os trabalhadores. "Eles me ajudaram a comprar o primeiro ônibus." Hoje, ele tem uma empresa, a Valturismo, com cinco ônibus avaliados em R$ 240 mil. O irmão Luiz Carlos, que saiu de Borá há quatro anos por falta de emprego, já fala em voltar. "Fiz cadastro na usina."

O paulistano Fernando César Ribamar, dono de uma pizzaria em Guaianases, zona leste da capital, viu na TV o noticiário sobre Borá e uma declaração do prefeito de que estava recebendo "de braços abertos" os novos moradores. "Peguei o carro e vim bater aqui", conta. Algumas horas de conversa bastaram para que conseguisse, da prefeitura, a doação de um terreno para montar um restaurante industrial.

As obras, quase prontas, incluem bar e pizzaria. "Vamos fazer 1.500 refeições por dia", diz. Ele e o sócio, Mamédio Antão de Souza, dono de um restaurante também em Guaianases, já se mudaram para a cidade. "Falta só trazer as mulheres e as crianças." A pizzaria e o restaurante de São Paulo serão fechados. "A violência lá é demais, aqui é o paraíso."

MARATONA

O trabalhador rural Josimar Neves da Silva, de 27 anos, percorreu 3.500 quilômetros de ônibus para tentar um emprego na usina de Borá. Ele saiu de Pena Branca, Ceará, com outros 41 bóias-frias, fugindo da falta de serviço. Foram três dias de sacrifício, mas valeu a pena, segundo ele. "A maioria de nós já está com a carteira assinada." O tratorista Márcio Olímpio viajou de Cajueiro, Alagoas, com dois colegas. Eles já trabalhavam para o grupo e vieram por causa da safra.