Título: Usina tira de Borá o título de menor cidade
Autor: José Maria Tomazela
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/04/2005, Metrópole, p. C1

Os 818 habitantes de Borá, no oeste paulista, a 502 quilômetros da capital, carregam há quase dez anos o estigma de morar na menor cidade do Brasil. Agora, estão na iminência de deixar a última posição entre os 5.560 municípios do País. Quando as moendas e caldeiras da usina de açúcar e álcool Ibéria começarem a funcionar, em junho, a cidade terá 1.700 moradores a mais, três vezes a população atual. "Vou passar a lanterna para outro prefeito", diz Nelson Celestino Teixeira (PSDB), de 52 anos, que cumpre seu quarto mandato. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o título vai para Serra da Saudade, em Minas, com seus 884 habitantes. Borá vai ultrapassar também a goiana Anhangüera, que tem 908 moradores e era o terceiro menor município do País.

É certo que, num primeiro momento, a maioria dos trabalhadores terá de se abrigar em cidades vizinhas. Em Borá, não há uma única casa disponível, para vender ou alugar.

Os 1.200 trabalhadores que a usina já contratou para o plantio da cana-de-açúcar e a preparação da área industrial ocuparam até as 35 casas que estavam vazias havia anos, quando a cidade ainda assistia ao êxodo dos seus moradores. Na época áurea do café, em 1986, Borá chegou a ter 2.800 habitantes. No Censo de 2002, tinham restado apenas 795.

AGITO

"Dava tristeza de ver o povo indo embora", lembra Teixeira. Na pracinha, na frente da prefeitura, sob uma figueira centenária, ele assiste agora ao fenômeno inverso. Desde que a usina, do grupo alagoano Toledo, começou a contratar trabalhadores para formar canaviais, no fim de 2002, a cidade saiu do marasmo.

Carros, motocicletas e ônibus trazem trabalhadores já contratados ou candidatos a uma vaga na Ibéria. "Não há um cômodo para ser alugado e terrenos vagos estão sendo ocupados. Quem pode vai erguendo sua casinha", diz Teixeira.

Para não perder a oportunidade que passa como "um cavalo arreado", o prefeito mobilizou a população. Ele agora quer que os poucos comerciantes ampliem seus negócios para atender os novos moradores.