Título: Severino é confuso e 'errático' diz Jobim
Autor: Expedito Filho, Jamil Chade
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Nacional, p. A7

Eles foram juntos à Itália, onde tiveram dois encontros, mas nenhum entendimento

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim, disse ontem que ficou assustado com a maneira errática demonstrada pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, para expressar as suas opiniões. Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Itália, em pelo menos dois encontros, um almoço e um jantar, ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), Jobim tentou em vão chegar a um entendimento entre o Legislativo e o Judiciário. "O Severino é uma coisa, não se concentra, é errático, não consegue se expressar", afirmou Jobim.

O presidente do STF e Severino já defenderam, no entanto, posições semelhantes. Por exemplo: os dois eram favoráveis, apesar de contrariarem a opinião pública, a aumentar os salários dos deputados e juízes. No ocasião, enfrentaram a oposição de Renan, que não aprovou o aumento.

Em Roma, em um restaurante nas proximidades da Praça Navona, os três tentaram unificar o discurso. As atitudes de Severino nesse encontro impressionaram Jobim - de forma negativa.

O que se observou de diferente em Severino, após os dois encontros em Roma, foi uma mudança no vocabulário. Ele deixou de lado a expressão "aumento", quando trata da polêmica questão dos salários dos deputados, substituindo-a por "reajuste".

Desde seu desembarque em Roma, o presidente da Câmara sentiu a falta dos assessores que sempre o acompanham em Brasília. Pediu ajuda para entender como seu telefone celular funciona no exterior e, ao visitar oficialmente a Assembléia Legislativa italiana, solicitou a jornalistas brasileiros que o acompanhassem. Ele não fala uma palavra em italiano.

PROMESSA

Na Assembléia, prometeu o voto do Brasil para o candidato italiano que pleiteia um posto de direção na União Parlamentar Internacional, com sede em Genebra. Essa foi outra decisão bem ao seu estilo: garantiu o apoio sem consultar ninguém.

Severino disse que gostou da convivência com os colegas dos outros dois Poderes. Com o presidente Lula, ele foi sempre afável. Sobre Renan e Jobim, disse: "A viagem foi maravilhosa. Estreitamos os nosso laços, o que é muito importante para o trabalho no Brasil."

Por fim, ele revelou que é um homem de poucos pecados. Disse que se confessa anualmente: "Mas ainda não me confessei em 2005 porque estamos no começo do ano e ainda não precisei."