Título: Ressentimento de chineses é profundo e histórico
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Internacional, p. A8

O ressentimento contra os japoneses é profundo dentro da sociedade chinesa, com uma avassaladora maioria considerando que o Japão não foi suficientemente punido por sua agressão contra a China durante a 2.ª Guerra. Até polêmicas menores podem provocar descontentamento em massa, especialmente quando o governo manda sinais, como fez recentemente, de que permitirá algumas manifestações políticas públicas. "Nossa geração acredita que a China deve lutar por seus direitos e parar de tratar o Japão com condescendência", disse Li Jiangchuan, estudante que se uniu à marcha de sábado. "O Japão tem de parar de mentir sobre a história e contar a verdade." A liderança comunista, que impõe um código de estabilidade social rígido, quase nunca dá permissão aos manifestantes para fazer passeatas nas ruas da capital. Um crescente abismo social, apropriações de terras, corrupção e outras questões são causa de distúrbios freqüentes em todo o país, mas a polícia normalmente age com rapidez para dispersar os participantes e prender os organizadores.

Mas as relações entre a China e o Japão, as duas principais potências asiáticas, se deterioraram fortemente nos últimos meses, pelo menos relaxando temporariamente a vigilância contra as atividades políticas de base. Recentemente, os dois países tomaram providências para garantir a soberania de pequenas ilhas no Mar de Leste da China e das reservas de gás natural no subsolo da região.

A China critica os novos livros de história japoneses, segundo os quais os massacres de civis chineses durante a ocupação japonesa nos anos 30 e 40 foram fatos isolados. Também atacou o Japão em fevereiro por prometer se unir aos Estados Unidos na defesa de Taiwan, se a China atacar a ilha, que alega ser seu território soberano.

O Japão acusou a China de distorcer a história e atiçar o fogo da xenofobia internamente. Tóquio também criticou a rápida escalada militar chinesa, que afirma ser esta desnecessária para um país que promete manter relações pacíficas com seus vizinhos.

Além disso, na semana passada, a China foi peremptória em sua posição sobre a expansão do Conselho de Segurança da ONU. Pequim começou no mês passado um esforço para unir a opinião pública contra o Japão. A ONU avalia propostas de tornar o Japão um membro permanente do Conselho.

A opinião geral é que liderança chinesa não ganha muito ao permitir que os protestos ganhem força, com alguns veteranos achando até que chegou a hora de diminuir o tom. "É natural controlar as coisas a essa altura", disse Tong Zeng, um veterano manifestante anti-Japão. "As pessoas já se posicionaram."

Mas alguns veteranos observadores da China dizem que o governo liberou uma força poderosa que deve ser difícil controlar novamente. "Acho que o objetivo da liderança é espalhar sentimentos anti-Japão por um lado, mas manter conversações de alto nível por outro", disse Wenran Jiang, especialista em Ásia da Universidade de Alberta, no Canadá. "Esse é um verdadeiro dilema para a liderança. Existe a possibilidade de que isso se misture com reivindicações sociais mais amplas. Então, eles têm que conduzir a coisa com cuidado."