Título: China: cresce protesto anti-Japão
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Internacional, p. A8

Pelo segundo dia consecutivo, milhares de chineses realizaram violentas manifestações contra consulados japoneses em várias parte do país, na maior manifestação pública de revolta contra estrangeiros desde que a Otan bombardeou por engano a Embaixada da China em Belgrado, em 1999. A aprovação de um texto, pelo Parlamento de Tóquio, que justifica a brutal ocupação japonesa na China de 1931 a 1945, fez ressurgir históricos sentimentos anti-Japão entre os chineses. Os protestos começaram no sábado, quando cerca de 10 mil pessoas se concentraram na frente da embaixada japonesa, lançaram pedras contra o edifício, queimaram bandeiras e exigiram o boicote aos produtos japoneses. Ontem, as manifestações se espalharam para as províncias de Cantão e Shenzen.

A China também critica o Japão por causa da recente publicação de livros de história nos quais, de acordo com os chineses, o Japão apresenta uma posição revisionista dos fatos ocorridos durante a 2.ª Guerra. Esse revisionismo, segundo Pequim estaria sendo levado adiante pelos japoneses em razão de sua aspiração de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU (ler ao lado).

Uma emissora de TV a cabo de Hong Kong mostrou imagens de milhares de pessoas em Cantão, das quais algumas tentavam romper as barreiras erguidas pela polícia e outras lançavam objetos contra restaurantes e lojas japonesas.

Em Shenzen, na fronteira com Hong Kong, cerca de 500 manifestantes marcharam pela zona comercial da cidade, gritando slogans contra o Japão e lançando garrafas plásticas e tinta contra restaurantes japoneses. Em alguns casos, a polícia antidistúrbio foi acionada. Mas, no geral, o governo chinês se limitou a pedir calma à população.

"Algumas pessoas organizaram uma manifestação de protesto pela atitude equivocada tomada recentemente pelo Japão sobre seu passado de agressão", informou sobre os atos a agência de notícias oficial Nova China, citando o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Qin Gang.

A Guerra Sino-Japonesa marcou o início da expansão bélica do Japão imperial. O Japão obteve rápidas vitórias ante uma China debilitada pela guerra civil e inferior militarmente. A tomada da então capital chinesa, Nanquim, em dezembro de 1937, é lembrada como particularmente sangrenta. Entre o que os historiadores descrever como "orgia de saques e massacres", estima-se em 300 mil o número de chineses mortos.

A visão japonesa, no entanto, admite que crimes de guerra foram cometidos, mas não de forma sistemática.