Título: No Senado, 70% empregam familiares
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Nacional, p. A5

Avaliação extra-oficial feita no Senado mostra que pelos menos 70% dos 81 senadores empregam parentes. Há casos extremos, como o de uma parlamentar que não trouxe a sobrinha do Norte nem mesmo para que ela tomasse posse. Foi substituída no ato pelo chefe de gabinete e a contratação efetivada mesmo assim. Para o senador Jefferson Péres (PDT-AM), não há dúvidas de que o nepotismo fere os princípios constitucionais da moralidade e da impessoalidade do serviço público. "Ainda assim, está arraigado na cultura brasileira", constatou. Péres disse que, embora considere "cínica" a atitude do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), de fazer apologia ao nepotismo, acha ainda pior a prática dos que fazem a triangulação. "É o caso daqueles que dizem: você emprega minha mulher que eu emprego o seu filho", explicou. Como exemplo de "triangulação" citou o fato de o senador Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) contratar a primeira-dama de Aracaju, Eliane Aquino Custódio, mulher do prefeito petista, Marcelo Déda, como secretária parlamentar, salário de R$ 6,2 mil. "A mulher do prefeito ser contratada para o gabinete de um senador é nepotismo, mesmo", alegou.

O senador Sibá Machado (PT-AC) foi enfático ao contestar a divulgação da contratação do marido da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, de quem é suplente, no gabinete que recebeu dela. Mas caiu em contradição ao dizer que reagiu porque a opinião pública não aprova iniciativas dessa natureza.

Outro que tem os filhos empregado na Casa, João Capiberibe (PSB-AP) deu como desculpa o fato de eles serem "muito competentes, ter doutorado no Canadá e falar quatro línguas". Ele confirmou as contratações. Já Valadares, que teria feito as duas, alega que o rapaz não tomou posse, sem abandonar o tom de intimidação que usa para mostrar que não está nem aí diante das críticas contra o nepotismo.

Exemplo forte de nepotismo, o secretário de Governo do Rio, Anthony Garotinho, afirmou só ser contrário aos "abusos" na contratação de parentes. No seu caso específico, de trabalhar com a mulher, a governadora Rosinha Matheus, defendeu que nada vê de contraditório na sua posição. "Ao contrário, eu não precisaria ser secretário de governo, acho que estou prestando um favor muito maior ao Estado", alegou. Garotinho disse que só comentará o projeto da Câmara depois de conhecê-lo.