Título: PMDB derrota Lula no Senado e rejeita nome para comandar ANP
Autor: José Ramos, Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Nacional, p. A7

Uma revolta silenciosa do PMDB contra o Palácio do Planalto, engrossada por outros senadores governistas e adversários do PFL e PSDB insatisfeitos especialmente com os maus-tratos da ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff, derrotou o governo ontem na Comissão de Infra-Estrutura do Senado. Por um placar apertado de 12 votos a 11, o engenheiro José Fantine - uma indicação pessoal da ministra - teve seu nome rejeitado para a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP). O cargo de diretor-geral, que havia sido reivindicado pelo PMDB, ainda pode ser destinado a Fantine, caso o governo seja bem sucedido na ofensiva para levar seu nome direto ao plenário do Senado. O "troco político" dos rebeldes ficou evidente com a aprovação do administrador Victor de Souza Martins, indicado para o cargo de diretor da ANP pelo governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, com folga de votos: 20 favoráveis e apenas três contrários.

Ao final da sessão em que sobraram elogios à capacidade técnica de Fantine, o presidente da Comissão, senador Heráclito Fortes (PI), declarou-se surpreendido pelo resultado: "Foi uma ação silenciosa, pois eu não vi movimentação nenhuma contra o Fantine no plenário. Fiquei surpreso porque ele era um nome muito bom".

O golpe concretizado no fim da tarde já vinha sendo preparado nos bastidores desde a véspera, sob o comando discreto de líderes da ala governista do PMDB que, além da velha pendenga com o PT na disputa de cargos federais, vive uma crise de confiança em relação ao Planalto. Desde a semana passada, peemedebistas desconfiavam de uma operação palaciana para abalar a hegemonia do partido no Senado e enfraquecer a liderança do presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do senador José Sarney.

A suspeita era a de que todo o bombardeio de denúncias contra o ministro da Previdência Social, senador Romero Jucá (PMDB-RR), fizesse parte de uma "armação" de setores do Planalto, incomodados com a força política do PMDB no Senado. Mas a revolta também teve seus componentes pragmáticos da disputa de poder e do troco à ministra Dilma em particular.

Ela é acusada de ter tirado R$ 64 milhões do Piauí de Heráclito Fortes, onde PT e PMDB são aliados. A gestão do dinheiro, destinado a programas de eletrificação rural da companhia de energia do Estado - Cepisa, comandada pelo PMDB, acabou transferida para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Isso, além da queixa geral pelo fato de a ministra não receber parlamentares em audiência nem avisar os aliados de suas visitas às bases eleitorais dos políticos.

Só durante a sessão de votação do nome de Fantine, o líder do PT no Senado, Delcídio Amaral (MS), se deu conta da operação em curso.

Alertado por assessores seus e da ministra Dilma, ainda tentou negociar, por telefone, um acordo com o líder do PMDB, Ney Suassuna (PB). Propôs que o PMDB o ajudasse a aprovar os diretores da ANP na comissão, com a contrapartida de ter atenção especial do governo para negociar seus pleitos antes da palavra final do plenário do Senado.

Como nem o PMDB nem o PFL alertaram o líder da gravidade da rebelião, ele acreditou em um acordo com Suassuna, embora o voto fosse secreto e a votação tenha ocorrido ao longo de praticamente toda a sessão. "Fique tranqüila, já conversei com o pessoal", disse o líder à ministra Dilma, convencido de que a dificuldade maior estaria por vir, na votação em plenário. Ao final, queixou-se de "traição e quebra de confiança" na negociação.

Na avaliação dos petistas, o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) está sendo considerado o pivô da rebelião do PMDB. O principal motivo teria sido a recusa da ministra de nomear para a presidência da Eletronorte Winter Coelho, que havia sido indicado por Raupp. A segunda opção seria a Diretoria de Engenharia, mas essa escolha recaiu sobre Ademar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Os governistas argumentam, porém, que o cargo já era de um petista - Israel Bayma - e foi transferido a outro petista, que é funcionário de carreira de Furnas.