Título: Revés volta a expor falhas na articulação
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Nacional, p. A7

BRASÍLIA-Sem muito esforço, qualquer enviado do governo teria condições de saber com antecedência que o nome de José Fantine seria rejeitado na Comissão de Serviços de Infra-Estrutura. Ao meio-dia, a derrota do Planalto já era dada como certa. A oposição esperava um placar maior, de 15 votos a 8, mas comemorou o resultado de igual forma. "Foi uma canelada na ministra (das Minas e Energia, Dilma Roussef)", comparou um senador. "Ela quer o quê, isso aqui é uma Casa política e não um adendo do ministério." O fato mostra que a falta de articulação do governo ocorre também no Senado e não apenas na Câmara, como dizem os líderes petistas. Segundo um parlamentar, ficou provado que o Planalto só ganha no Senado quando não há confronto.

Foi o primeiro fracasso de um indicado para a ANP ainda na comissão.

Em 2003, o ex-deputado Luiz Alfredo Salomão teve igual sorte, só que no plenário, depois de ter ocupado um gabinete na agência e ter distribuído convites para a sua posse. O então presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi responsabilizado pela rejeição.

A estratégia agora foi mais ampla, envolvendo PFL, PSDB e até mesmo o "aliado" PMDB. Ganhou força no início da semana, mas já vinha se arrastando há alguns dias, desde que Ademar Palocci, irmão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, foi nomeado para a diretoria da Eletronorte, reivindicada pela bancada de senadores da Região Norte.

"Isso só mostrou que a ministra Dilma é preconceituosa em relação à região, até agora sem avançar com as obras de energia elétrica", protestou o senador Jefferson Péres (PDT-AM).

Além do fato de anunciar que é "amigo dos altos quadros do Ministério das Minas e Energia", pesou ainda contra José Fantine a forma como ele se referiu a suas atribuições no cargo de diretor-geral da ANP. "Ele extrapolou os limites da agência reguladora", comentou um senador. "Limitou-se a defender a política oficial, ignorando que o seu papel seria o de ser o árbitro para que a agência não vire um braço do governo Lula." A entrevista que ele concedeu ao Estado foi usada pelos senadores como prova da sua falta de condições para assumir o cargo.

O candidato do governo também "pagou" pelas seguidas críticas do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, ao governo do presidente Fernando Henrique Cardoso. Para um senador, ficou o alerta de que, daqui para frente, os governista têm de repensar seus "ataques", sob pena de paralisar boa parte das votações no Senado.