Título: Lula dá força, e Jucá faz nomeações
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Nacional, p. A8

Em meio ao bombardeio de denúncias de envolvimento em irregularidades, que já dura três semanas, o ministro da Previdência Social, Romero Jucá, conseguiu ontem obter do governo um gesto de apoio político. Em reunião na Casa Civil com o ministro-chefe José Dirceu, Jucá conversou por telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está na África, e conseguiu garantir a nomeação dos presidentes do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e da empresa de processamento de dados da Previdência (Dataprev).

No INSS será efetivado o presidente interino, Samir Hatem. Na Dataprev o atual diretor de negócios, Tito Cardoso de Oliveira, substituirá Jairo Cabral, que é presidente da empresa desde o início do governo Lula. Tito Cardoso é ligado ao PMDB do Pará e foi indicado para a vaga pelo senador Luiz Otávio (PMDB-PA). As duas nomeações devem ser publicadas no Diário Oficial da União nos próximos dias.

Segundo assessores de Jucá, essa foi a forma encontrada pelo Planalto para mostrar que não há intenção de demitir o ministro, apesar das denúncias. O presidente Lula também teria dito para Jucá não se preocupar e Dirceu lhe assegurou o respaldo de todos dentro do governo. Na conversa, Lula reiterou que espera que Jucá continue trabalhando para resolver o problema do déficit da Previdência.

ACEITAÇÃO

A nomeação de um funcionário de carreira para presidir o INSS em substituição a Carlos Bezerra, ex-senador do PMDB, agradou aos funcionários do instituto, que não estavam satisfeitos com o troca-troca de nomes da diretoria depois que o senador Amir Lando (PMDB-RO) assumiu a Previdência. Lando deixou a cargo do partido as indicações para a autarquia, mas retirou do INSS toda a parte de arrecadação, subordinando diretamente ao ministério os fiscais da Previdência.

Ou seja, o INSS perdeu poder, passando a cuidar exclusivamente de atendimento ao público e do pagamento das aposentadorias e pensões. Toda a fiscalização e cobrança de contribuições passou para a nova Secretaria da Receita Previdenciária, que o governo pretende juntar com a Receita Federal para criar um único órgão de arrecadação do Estado.

Lando não foi bem-sucedido na Dataprev e, apesar dos ataques públicos trocados com Jairo Cabral, não conseguiu derrubá-lo da presidência. O então ministro atribuiu a sabotagens dentro da Dataprev as sucessivas falhas do sistema que quase provocaram o colapso no atendimento das agências do INSS no ano passado.

Na Previdência, Cabral é tido como "gente do PT". Amigo de Lula e Dirceu, funcionários da autarquia comentam que nem o ex-ministro Ricardo Berzoini, hoje no Trabalho, foi responsável pela sua indicação - ele teria recebido a nomeação pronta do Planalto.