Título: Ditador de Camarões faz festa nas ruas para receber presidente
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Nacional, p. A6

Militantes do partido de Paul Biya ficaram mais de três horas

na frente do aeroporto, tocando e dançando músicas africanas

A recepção calorosa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve ontem ao desembarcar em Iaundê, vindo de Roma, serviu para o presidente de Camarões, Paul Biya, dar uma prova de como controla o seu país há 23 anos. Cerca de 250 militantes de seu partido, o RDPC, ficaram mais de três horas em frente ao aeroporto, tocando e dançando músicas africanas, debaixo de forte sol. Um grupo de mulheres fazia parte da recepção, todas vestidas de azul, com a foto de Biya estampada. Os homens usaram ou roupas típicas ou camisetas brancas, também com fotos do presidente. Apesar de toda animação, não foi uma homenagem especial a Lula - Biya organiza esse tipo de manifestação em todas as chegadas de autoridades estrangeiras.

Uma enorme faixa saudava o presidente Lula e um forte esquema de segurança foi montado no aeroporto e nas avenidas que dão acesso ao local. Depois das honras militares, a comitiva presidencial foi acompanhada por populares, que acenavam ao longo dos 30 quilômetros que separam o aeroporto do hotel.

Ele desembarcou às 17h30 (13h30 em Brasília) e já era aguardado pelo presidente de Camarões e por ministros brasileiros, que chegaram antes. Biya acompanhou Lula até a suíte.

Antes da saída do presidente para o jantar oferecido no Palácio do Governo foi a vez do ministro da Cultura, Gilberto Gil, exibir sua veia artística. Tocou e cantou com os músicos da banda Confiand de Yaondé, que se apresenta no hotel. Ele aproveitou para dedilhar o balafons, instrumento de percussão de som melodioso, feito de madeira.

Ao sair para o jantar, Lula afirmou: "Estou cansado hoje". Em rápido discurso no brinde, no Palácio do Governo, ele agradeceu o apoio do presidente de Camarões ao pleito do Brasil e saudou a decisão da União Africana de defender maior presença de países em desenvolvimento como membros permanentes do Conselho de Segurança. "É inaceitável que continentes inteiros como a África não tenham representação permanente em um Conselho de Segurança renovado."

O presidente afirmou que está empenhado em contribuir para o desenvolvimento de Camarões. "A prosperidade que estamos construindo para nossos povos tem que ser usufruída por todas as nações. Infelizmente, não evoluímos, ainda, a ponto de repartir a ceia do Planeta."

A ex-ministra Benedita da Silva vestiu-se em um conjunto negro de seda para se juntar à comitiva, no jantar. Ela informou que está se ocupando no momento com a Fundação Benedita da Silva, que, segundo disse, tem como objetivo "atender às famílias" em várias frentes. "Mas nada que coincide com os projetos a serem desenvolvidos pelos governo." Benedita está montando "antenas" ou escritórios, em vários países.