Título: Entusiasmo de Lula pela África não convence empresários brasileiros
Autor: Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Nacional, p. A6

Os empresários ficaram praticamente de fora da visita de cinco dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à África, iniciada ontem, por Camarões. "Queríamos trazer uns 30 empresários, mas vieram seis ou sete", reconheceu o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Mesmo assim, ele espera que a viagem contribua para melhorar o comércio com os países visitados, que teriam potencial de R$ 1 bilhão em negócios. Segundo Furlan, o comércio com África cresceu cerca de 40% no governo Lula. Um dos motivos da ausência de empresários foi a dificuldade de locomoção entre os países a serem visitados. Alguns convidados do governo, no entanto, tiveram seus lugares assegurados no sucatinha - o Boeing 737-200, que acompanha o Airbus da Presidência. Foi o caso da ex-ministra Benedita da Silva, que desembarcou em Iaundê ao lado do deputado negro Reginaldo Germano (PL-BA). Também estavam lá os ministros da Saúde, Humberto Costa, da Cultura, Gilberto Gil, e da Promoção e Igualdade Social, Matilde Ribeiro.

Depois da viagem, Furlan pretende organizar uma missão para aprofundar o intercâmbio com Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau e Senegal. Segundo o ministro, a visita presidencial servirá para abrir abrir canais, avaliar a extensão dos interesses e dar a partida nas negociações. "A partir da luz verde dos presidentes, vamos buscar alternativas."

CONSELHO DE SEGURANÇA

Até ontem à tarde, o chanceler Celso Amorim, que viajou com Lula, não sabia ao certo quais acordos seriam fechados em Camarões. "Pensava que era um, mas podem ser três", disse.

A viagem faz parte da estratégia do governo de explorar mercados não tradicionais, com o intuito de aumentar a influência do Brasil nos países em desenvolvimento e conquistar apoio para a reivindicação de um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. "Não tenho dúvida sobre qual será a posição da África quando for aberta a vaga para a América Latina", disse Amorim. Ele dá como certo o apoio africano à pretensão brasileira.

O ministro teve uma indicação disso durante um brinde no palácio do governo de Camarões. O presidente Paul Biya fez questão de ressaltar seu apoio: "Me parece que a reforma pretendida na ONU deverá dar ao Brasil um lugar que ele merece, em razão de seu peso e papel no cenário internacional."

Hoje, no primeiro encontro de trabalho com o presidente camaronês, Lula deve tratar de acordos de cooperação, dando ênfase à educação. O índice de analfabetismo em Camarões chega a 70% da população na faixa etária acima de 15 anos.

NIGÉRIA

Depois da visita de 19 horas a Iaundê, Lula segue hoje para a Nigéria. Em Abuja, capital nigeriana, ele se reunirá com o presidente Olusegun Obasanjo, que, ao longo de dois mandatos, tem enfrentado um clima de instabilidade, com conflitos étnicos e religiosos.

A Nigéria é o país mais populoso da África, com 140 milhões de habitantes, e sua maior riqueza é o petróleo. As transações comerciais com o Brasil giram em torno de US$ 4 bilhões.