Título: Rumsfeld aparece no Iraque em dia sangrento
Autor: Reuters, AFP, DPA e AP
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Internacional, p. A13

Confrontos de militares americanos com rebeldes e ataques suicidas ensombreceram ontem a visita a Bagdá do secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, justamente no momento em que comandantes militares começam a falar de redução de tropas no Iraque, animados com a diminuição do número de ações dos rebeldes e, conseqüentemente, de mortos. Pelo menos 20 pessoas morreram ontem em ataques e violentos enfrentamentos.

Embora altos funcionários do Pentágono tenham dito esta semana ao New York Times que o contingente militar poderia ser reduzido de 146 mil para 105 mil soldados até o início de 2006, Rumsfeld se mostrou ontem mais cauteloso e afirmou que os EUA ainda não têm uma estratégia para sair do Iraque. Aparentemente, ele reluta em fixar um cronograma, temendo que isso possa servir de estímulo para os insurgentes e incitar choques entre milícias rivais de grupos agora no poder.

Os dois atentados de ontem ocorreram em Mossul e arredores, região de forte resistência ao governo interino e à ocupação, no norte do país. Um carro-bomba detonado por um suicida matou cinco civis iraquianos e feriu outros quatro.

O outro veículo, também acionado por um militante suicida, explodiu em Tal Afar, a oeste de Mossul, matando cinco iraquianos e ferindo oito, incluindo sete crianças. Hospitais e fontes na polícia local informaram que o alvo eram as forças de segurança iraquianas e tropas dos EUA, mas não há informações sobre vítimas entre os militares.

Na cidade de Qaim, no oeste do Iraque, perto da fronteira síria, as tropas americanas entraram em confronto com grupos rebeldes armados, durante uma ofensiva militar contra contrabandistas de armas ligados aos insurgentes. Segundo porta-vozes militares, os insurgentes eram estrangeiros e vários foram mortos nos combates, incluindo um atacante suicida.

O diretor do hospital local declarou ter recebido 9 corpos de pessoas mortas nos choques e mais de 20 feridos. Mas moradores de um vilarejo no norte de Qaim afirmaram que mais de dez pessoas morreram na área e seus cadáveres não foram levados ao hospital. Tantos os residentes como funcionários do hospital disseram que as vítimas pareciam ser civis, e não combatentes. A Associated Press informou não ter como confirmar os relatos de militares e moradores.

Antes de reunir-se com o primeiro-ministro iraquiano, Ibrahim al-Jaafari, e o presidente Jalal Talabani, Rumsfeld expressou seu temor de que o novo governo "politize as forças de segurança".

Os EUA temem que os novos dirigentes ponham nos postos de comando pessoas ligadas a seus grupos políticos e removam militares que tiveram vínculos com o Partido Baath, de Saddam Hussein. Rumsfeld disse que isso poderia pôr em perigo os esforços para desmantelar os grupos rebeldes. O ex-primeiro-ministro interino Iyad Allawi manteve no governo e nas forças de segurança vários ex-membros do Baath.

RETIRADA POLONESA

A Polônia, que tem 1.700 soldados na coalizão sob comando dos EUA no Iraque, anunciou ontem que retirará suas tropas do país nas primeiras semanas de 2006. "Com a conclusão (no fim de dezembro) do mandato da ONU para a força de estabilização, devem cessar todas as atividades da missão polonesa", disse o ministro da Defesa, Jerzy Szmajdzinski, acrescentando que, encerrado o mandato, ainda serão necessárias "algumas semanas" para concluir a retirada.