Título: Inflação vai dar o tom aos mercados
Autor: Tom Morooka
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/04/2005, Economia, p. B4

Os investidores dedicarão atenção redobrada a indicadores de inflação nesta semana, que antecede o encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) que vai definir o rumo da taxa básica de juros dia 20. O mercado financeiro encerrou os negócios da semana passada preocupado com a inflação e os juros, diante da pressão sobre o núcleo do IPCA de março divulgado na sexta-feira, depois do otimismo em meados da semana alimentado pelos dados do IBGE que apontaram desaceleração da produção industrial em fevereiro. A idéia de que o Copom poderia interromper a elevação dos juros básicos, por causa dos dados mais fracos da produção industrial, foi rapidamente reavaliada após a divulgação do IPCA. Esse indicador, referência para a política de metas de inflação do Banco Central, subiu de 0,59% em fevereiro para 0,61% e, mais preocupante, apontou uma elevação também do núcleo, sugerindo que as fontes de pressão, desta vez, não se limitaram apenas a fatores sazonais. Essa percepção levou a uma forte aceleração dos juros projetados pelos contratos futuros. A taxa estimada para maio, que corresponde à próxima decisão do Copom, avançou de 19,28% na quinta-feira para 19,31%.

O executivo da Tesouraria do Standard Bank, Rodrigo Boulos, comenta que o movimento dos juros no mercado será determinado pelas expectativas de inflação. A começar pela estimativa de inflação estampada na pesquisa Focus, que o BC divulga hoje e deve vir influenciada pelo estresse com o IPCA, prevê Boulos. Amanhã será conhecida a primeira prévia de inflação de abril pelo IPC-Fipe e, na quarta, o IPC-S, da FGV.

Boulos comenta que pelos sinais externos - com a desaceleração das cotações do petróleo e dos juros nos títulos de dez anos do Tesouro americano - o BC poderia interromper a alta dos juros. Ele lembra ainda que boa parte dos efeitos da elevação da taxa básica nos últimos meses estará sendo refletida no rumo da economia e da inflação nos próximos seis meses.

Embora a pressão sobre o IPCA tenha vindo basicamente do aumento das tarifas de ônibus e de água (dois preços administrados cujo comportamento independe de ação da política monetária), o mercado passou a conviver com certo temor também dos efeitos da inércia inflacionária para 2006. "Se o BC estiver olhando a inflação de 2006, o modelo que tem adotado tem condições de acomodar eventual repasse deste ano para o próximo de forma a ajustar a inflação dentro da meta definida para 2006", comenta. " A pergunta que se faz é se o aumento dos juros agora não seria um remédio amargo demais para conter a inflação deste ano, se a preocupação maior é com a de 2006?" Para Boulos, a estabilidade dos juros em 19,25% é possibilidade real.

No cenário internacional, o principal evento é a divulgação, amanhã, da ata de março do Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA), cujo comunicado, divulgado no término da última reunião, reforçou o temor de reajuste mais agressivo dos juros americanos. Um eventual reforço dessa expectativa pela ata pode pressionar os juros nos EUA com reflexos no mercado doméstico.