Título: Japão prepara exploração de gás em área disputada com a China
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Internacional, p. A14

Numa medida que ameaça agravar a crise diplomática com Pequim, o governo japonês decidiu iniciar hoje o processo de concessão de licenças para que companhias particulares japonesas explorem gás natural numa área disputada do Mar do Leste da China - onde Pequim tem seus próprios projetos no setor. Com a decisão, anunciada na manhã local de hoje pelo Ministério do Comércio do Japão, o governo quer deixar claro que pretende resguardar seus direitos sobre os recursos naturais na área, ressaltou a agência japonesa Kyodo. Em outro lance da crise, o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, advertiu ontem que, se o Japão deseja obter um papel internacional mais importante - referindo-se à tentativa de ocupar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU -, deverá enfrentar suas responsabilidades históricas e conquistar a confiança dos vizinhos.

Jiabao, que encerrou ontem uma visita de quatro dias à Índia, disse que os recentes protestos contra o Japão na China foram dirigidos contra a tentativa japonesa de obter a cadeira permanente. Ele acrescentou que esses protestos deveriam levar Tóquio a amplas e profundas reflexões.

'Somente um país que respeita a história, responsabiliza-se por sua história e ganha a confiança da Ásia e do mundo pode assumir mais responsabilidade na comunidade internacional', disse Wen.

A China - membro permanente do CS da ONU com direito a veto junto a EUA, Rússia, GrãBretanha e França - se opõe a estender essa prerrogativa ao Japão.

Nos últimos dias, o sentimento anti-Japão, sempre presente na China desde a 2.ª Guerra Mundial, voltou na forma de violentos protestos após a edição de um novo livro de história no qual o Japão omite seus crimes de guerra e distorce sua história (ler ao lado).

Cerca de mil pessoas apedrejaram sábado a Embaixada do Japão em Pequim em protesto pela publicação do livro e pela intenção de Tóquio de obter a cadeira no CS. Os protestos continuaram domingo, reunindo 30 mil manifestantes em três cidades.

O chanceler japonês, Nobutaka Machimura, pediu ontem a Pequim que faça prevalecer a diplomacia e responda às exigências de desculpas e indenizações de Tóquio. Machimura vai domingo à China para reunir-se com o chanceler chinês, Li Zhaoxing.

A Coréia do Norte juntou-se ontem à China e à Coréia do Sul nas críticas ao Japão, chamando o país de 'anão político'.

Segundo um porta-voz da Chancelaria norte-coreana, 'o li- vro distorce e embeleza a agressão imperialista japonesa contra a Coréia, indicando que os japoneses avançaram sobre a Península Coreana por autodefesa e ajudaram na modernização da Coréia'.