Título: Cúpula quer participação maior em decisões
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Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Vida&, p. A15

A morte de João Paulo II abriu novo debate sobre como deve ser a administração da Igreja Católica e até que ponto os cardeais devem participar das decisões do futuro papa. O Vaticano iniciará a escolha desse novo papa na segunda-feira, com a abertura do conclave. Antes, será realizada uma missa entre bispos, padres e fiéis para tentar ajudar os cardeais na escolha. O problema é que, até lá, os cardeais terão de começar a definir o futuro da Igreja e, nessa questão, as divisões entre eles não são insignificantes. Em reunião realizada anteontem, o arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, levantou uma das questões mais delicadas: a relação entre o papa e os demais bispos e cardeais nas definições e decisões da Igreja. Vaticanistas em Roma admitem que um dos pedidos mais freqüentes entre os membros do Colégio de Cardeais é uma maior participação nas decisões da Igreja. "O Vaticano não pode mais ser administrado como era há 500 anos e quando o catolicismo só existia na Europa. Hoje, ele é universal", afirmou ao Estado uma fonte no Vaticano.

A questão da descentralização, porém, promete ser polêmica, já que, no fundo, trata de como a Igreja vai administrar seu 1,1 bilhão de fiéis nos próximos anos. Outra questão espinhosa é a relação entre a Igreja a ciência.

Enquanto o Vaticano debate seu futuro e se programa para as eleições, o Corriere della Sera divulga um artigo que questiona os apelos supostamente espontâneos dos fiéis pela canonização de João Paulo II. Durante o funeral, na sexta-feira, a multidão pediu que o papa fosse canonizado, fato que chamou a atenção internacional. Uma petição assinada por muitos cardeais foi entregue a Ratzinger, mas nem todos teriam aderido, segundo o jornal italiano. Aqueles que não adotam a mesma posição não o fazem contra João Paulo II, segundo o Corriere. O motivo seria a falta de competência do Colégio de Cardeais para lidar com o tema.

Não por acaso, diante de tantos desafios, os organizadores do conclave optaram por iniciar o processo eleitoral com uma missa celebrada pelo cardeal Joseph Ratzinger, um dos papáveis. "A Igreja está convocada a perseverar na oração, tomando como exemplo a primeira comunidade cristã, e a elevar suas súplicas ao Senhor para que ilumine o espírito dos eleitores e lhes conceda a unidade na hora de eleger o novo papa", diz o Vaticano, lembrando que todos os cardeais terão de jurar que não revelarão nenhum tipo de informação do conclave.

Já na reunião de ontem dos cardeais, as despesas do período de transição da Igreja foram debatidas de novo e o camerlengo espanhol Eduardo Somalo informou que havia selado a porta do apartamento usado por João Paulo II. Os aposentos só serão abertos para o novo papa.