Título: Pai de pároco atribui crime a demônios
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Metrópole, p. C1

O aposentado Agnaldo Campos Curado, de 64 anos, pai do padre Adriano, envenenado dois dias depois de assumir a Paróquia Bom Jesus, no bairro pobre do Novo Mundo, em Goiânia, diz que seu filho teria uma carreira brilhante na Igreja. Mas seu sonho foi desfeito. "Demônios travestidos de pessoas o mataram", afirmou o aposentado. Desde que o filho foi morto, em 17 de abril de 2002, ele luta por justiça. Curado mora em Corumbá de Goiás, 125 quilômetros a nordeste de Goiânia e 125 quilômetros a sudoeste de Brasília. Tem outros quatro filhos e quatro netos. Adriano era o mais velho.

O padre faria 30 anos em 2005. Foi para o seminário, em Anápolis, quando tinha 20 anos. Depois de sete anos de estudo, em 21 de dezembro foi ordenado sacerdote. O pai relembra que a cerimônia foi comandada pelo então arcebispo de Goiânia, d. Antonio Ribeiro.

Com apenas três meses e meio de vida religiosa pós-ordenação, terminou morto por envenenamento ao assumir sua primeira paróquia, a do Bom Jesus, no Novo Mundo, na parte leste de Goiânia.

"Até hoje estou completamente chocado com que o aconteceu. Eu, minha mulher (Bárbara, de 49 anos) e meus filhos. Mas não há outro jeito senão tocar a vida", disse o aposentado. Curado mora no centro de Corumbá de Goiás, na casa que construiu com seu salário de servidor da área burocrática do Ministério da Saúde.

"TODOS SABEM"

O pai do padre Adriano guarda grande mágoa da Igreja de Goiânia. "Eles gastam um mundo de dinheiro para tentar esconder a verdade. Todo mundo sabe quem matou meu filho", garantiu Curado.

Ele conta que somente no ano passado conheceu o padre José Altino, que agora foi assassinado num motel pelo marido da amante. "A primeira vez que o vi foi no enterro do padre Moacir Bernardino."

Curado disse também que antes da morte de Bernardino, o padre José Altino começou a dizer para todo mundo que a família de Adriano tinha intenção de matar o ex-vigário da Paróquia Bom Jesus. "Imagine só, dizer uma coisa destas da gente. Ainda bem que a polícia viu que era tudo invenção. A gente só quer que os responsáveis paguem por seus crimes, porque não são criaturas de Deus."