Título: História de mortes e sexo abala Igreja
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/04/2005, Metrópole, p. C1

O assassinato de três padres abalou a Igreja Católica em Goiânia. Primeiro, o padre Adriano Curado, de 27 anos, da Paróquia Bom Jesus, foi envenenado, em abril de 2002. Dois anos depois, um dos principais suspeitos da morte, o padre Moacir Bernardino, da mesma paróquia, no bairro Novo Mundo, que administrava os bens da Arquidiocese de Goiânia, foi morto com dois tiros no rosto, e o veículo em que estava, um Santana, sumiu. Na quinta-feira, a peça-chave para a solução dos crimes, o padre José Altino Torres, foi morto em um motel por José Amilton Coelho de Souza. José Altino, que era amigo de Bernardino, estava na companhia da ex-noviça Creuza Soares Macena, mulher de José Amilton, no Motel Sky, em Aparecida de Goiânia. O padre conheceu Creuza, de 44 anos, em 1980.

Ela disse à polícia que pretendia fugir com o amante e que o marido sabia sobre o caso com o padre. Mas, segundo Creuza, há dois meses José Amilton começou a segui-los.

Conforme nota da Arquidiocese, José Altino estava afastado de suas funções sacerdotais por causa de problemas "físicos e psicológicos" provocados por um acidente. Ele era tido como violento. No ano passado, chegou a ser preso em Palmas (TO), após atirar no irmão dele, em uma discussão por causa da herança dos pais.

Josuemar Vaz de Oliveira, delegado que investiga o assassinato do padre Bernardino, diz que José Altino era o principal suspeito pela morte do religioso. Segundo ele, em 9 de junho passado, Bernardino tinha combinado fazer uma peixada em sua casa, na vizinha Guapó, para onde se mudara depois do envenenamento de Adriano, em Goiânia. Convidara José Altino, que não compareceu. Às 23h45 daquele dia, o corpo de Bernardino foi encontrado na Vila Mauá, com dois tiros do lado direito do rosto, o que leva à conclusão de que foram disparados por uma pessoa que estava ao lado do padre no Santana.

Na investigação sobre a morte de Adriano, o delegado Eurípedes da Silva III obteve autorização judicial para gravar as conversas de Bernardino. Segundo ele, em muitas passagens eram relatadas orgias na Paróquia Bom Jesus. Ele concluiu que o padre e o estudante para padre Dairan Pinto de Freitas, de 23 anos, mantinham um relacionamento homossexual e que eram os maiores interessados na morte de Adriano. Em 2004, Dairan e Bernardino chegaram a ser presos por dez dias, por ordem do juiz Jessier Coelho de Alcântara. A polícia concluiu que os dois desviavam dinheiro da paróquia para as orgias.

O arcebispo de Goiânia, d. Washington Cruz, determinou silêncio sobre o caso. Mas a polícia apurou que o padre Adriano fora enviado para a Paróquia Bom Jesus com a missão de verificar se havia desvio de dinheiro. Mudou-se para a casa paroquial no dia 15 de abril. No dia 17, foi envenenado durante o café da manhã com um produto da cadeia dos organomonoclorados.

Joviano Carneiro Filho, procurador jurídico da Arquidiocese de Goiânia, diz que a cúpula da Igreja quer ver o caso apurado. "Para nós, o padre Bernardino não é nada disso que dizem dele. Era uma pessoa muito querida."