Título: Vendas desafiam dólar baixo
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Economia, p. B1

Contrariando todas as profecias dos catastrofistas, a exportação continua batendo recordes, mesmo com dólar cotado a R$ 2,51. Nos números analisados pelos economistas, não existe nenhum indício de desaceleração das vendas externas. Pelo contrário. "O crescimento mundial espantoso continua puxando as exportações de manufaturados, básicos e semimanufaturados", diz Guilherme Loureiro, economista da Tendências Consultoria Integrada. Já as importações trazem um sinal de alerta: a média diária está caindo. Foi de US$ 276,1 milhões em fevereiro, US$ 268,3 milhões em março e US$ 266,3 milhões em abril. "Este é um indício claro de que o mercado interno está desaquecendo; mesmo com o dólar altamente favorável, a importação, principalmente de matérias-primas, está caindo", diz José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).

Muitos economistas continuam perplexos com o desempenho das exportações, que desafiam a queda do dólar. Alguns arriscam explicações. "A demanda externa continua muito forte e o preço de alguns produtos brasileiros subiu", diz Loureiro.

Para Castro, o bom desempenho das vendas externas ainda reflete contratos fechados no ano passado, quando a cotação do dólar era mais favorável. Ele prevê que as exportações devem continuar em alta até junho, principalmente por causa da entrada da safra de soja e do bom desempenho do minério de ferro.

Para Castro, o desaquecimento do mercado interno também ajuda as exportações. "Como o nível de utilização de capacidade está caindo, muitos empresários preferem continuar exportando, mesmo com margem menor ou prejuízo, para manter as economias de escala."

Por enquanto, a exportação de calçados é a única vítima do dólar baixo e da concorrência chinesa. Em abril, as vendas externas de calçados caíram 14% em relação a março. Segundo Castro, os setores de confecções e calçados são os mais vulneráveis à queda do dólar, porque são formados por pequenas e médias empresas. "Essas empresas não podem fazer economia de escala; elas não têm tamanho nem saúde financeira para exportar com prejuízo."