Título: Mais recordes nas exportações
Autor: CELSO MING
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Economia, p. B2

O comportamento exuberante das exportações está empurrando o superávit comercial a níveis nunca vistos e vai tirando força dos argumentos dos exportadores de que o dólar está barato demais.

Desde julho do ano passado, quando o dólar resvalou para abaixo dos R$ 3, os exportadores vêm repetindo que, a esse câmbio, as exportações murchariam. O dólar vai chegando perto da marca psicologicamente fatídica (R$ 2,50) e, no entanto, as exportações seguem pujantes e crescem mais do que as importações que, a essas cotações, deveriam estar disparando.

Em abril foi obtida a maior média diária de todos os tempos (US$ 444,2 milhões). Na acumulada de 12 meses, os embarques para o exterior aumentaram 34,4% (sobre igual período anterior), no critério de média diária. As importações também cresceram, mas um pouco menos: 31,6%.

Nesse mês, o superávit comercial (exportações menos importações) de US$ 3,9 bilhões, também foi recorde histórico. No primeiro quadrimestre do ano, já é de US$ 12,2 bilhões e em 12 meses, de US$ 37,8 bilhões. No fim do ano passado, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, avaliava que o resultado comercial deste ano ainda seria bom, em torno de US$ 20 bilhões, embora mais baixo do que o de 2004, quando atingiu US$ 33,6 bilhões. Pouco mais de quatro meses depois, o ministro vai tendo de rever suas projeções porque o saldo positivo deste ano estará mais perto dos US$ 40 bilhões do que dos US$ 20 bilhões.

Ainda ontem, o Estado publicou estudo do Banco Central que chegou à conclusão de que, em relação a 16 moedas de países compradores do Brasil, o real continua competitivo. Isso ajuda a explicar, mas é preciso ir mais fundo.

Há uma semana, esta coluna citou análise do professor Edward Amadeo, ex-ministro do Trabalho do governo Fernando Henrique. Ele fala de um movimento estrutural em marcha: as grandes empresas no Brasil, tanto as de capital nacional como de capital estrangeiro, orientam seus investimentos prioritariamente para usar o Brasil como plataforma de exportação e apenas secundariamente como fornecedor interno. Quer dizer, os custos de produção continuam dando competitividade ao produto brasileiro ante o produzido na Europa e nos Estados Unidos.

Mas isso não explica por que as importações, que teriam tudo para galopar, estão crescendo menos do que as exportações. Faz mais sentido dizer que o crescimento maior das importações vai sendo inibido pela política de juros, que contém o consumo interno. E, na medida em que o mercado interno vai-se estreitando com a desaceleração, o setor produtivo tende a compensar-se com mais exportações. Nesse caso, com o dólar próximo dos R$ 2,50, o retorno do exportador é mais baixo, mas, ainda assim, satisfatório.

A força das exportações brasileiras de manufaturados mostra que tudo de que o Brasil precisa é de mais acesso aos grandes mercados. Isso aumenta a necessidade de mais acordos comerciais que destravanquem o caminho para o produto brasileiro. E, no entanto, a política externa do governo Lula continua mais interessada em firmar a liderança geopolítica do Brasil na América do Sul do que em abrir mercados. E isso custa caro:

"Cada vez que um país se insinua ou se afirma líder, irrita aqueles que são ou serão liderados" - advertiu domingo o embaixador Marcos Azambuja, em entrevista ao caderno Aliás, do Estado. É também ele que aponta para um grave erro da diplomacia brasileira: "Mediação não se oferece. Ela tem de ser solicitada. Quem oferece mediação se desqualifica como mediador."