Título: Lula reafirma: não mexe no câmbio
Autor: Cleide Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Economia, p. B3

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não está disposto a adotar medidas para melhorar a paridade cambial, reivindicação cada vez mais forte entre o empresariado exportador. Em visita ontem à fábrica da Volkswagen em São Bernardo do Campo (SP), maior exportadora de veículos do País, Lula sugeriu que se faça "uma comitiva para se queixar aonde efetivamente é a razão da desvalorização do dólar, que é um problema com a política americana." De acordo com o presidente, a questão cambial, que segundo os exportadores provoca a redução de contratos no exterior, não é "um problema que nós podemos resolver do jeito que alguns imaginam". Lula ressaltou ainda que, salvo alguns setores da indústria, vários outros estão bem nas exportações, tanto que o saldo comercial da balança brasileira cresceu.

Para o presidente da Volkswagen do Brasil, Hanz-Christian Maergner, as exportações do grupo hoje, "do ponto de vista financeiro, são uma catástrofe". Segundo ele, todo o orçamento foi feito com base na cotação do dólar a R$ 2,85, o que daria uma margem razoável de retorno. Mas, trabalhando com câmbio a R$ 2,67, "a margem é zero". Ontem, a paridade ficou em R$ 2,51.

"O câmbio atual nos coloca em situação crítica", disse o executivo. A Volks não pretende suspender as vendas externas, mas pode rever a estratégia nos próximos três meses. O mesmo prazo foi estabelecido pelo presidente da General Motors, Ray Young. Ele também afirmou não ser possível manter o mesmo ritmo de vendas externas nessas condições.

Maergner informou que, em um ano e meio, o real teve valorização de 15%. Ele não refez, por enquanto, a projeção de exportações do grupo para este ano, de crescer 10% em relação a 2004, quando somaram US$ 1,5 bilhão. "A boa notícia deve vir da Europa, pois certamente vamos perder na América Latina", afirmou o executivo. A Volks iniciou no mês passado as vendas do Fox no mercado europeu, onde a cotação é pelo euro, que não teve perda significativa como o dólar.

A empresa espera vender cerca de 100 mil unidades do modelo naquele mercado, num período de 12 meses. Já os veículos exportados para o México, atualmente o maior cliente da montadora brasileira, já tiveram os preços reajustados em 4,5% este ano. Para os clientes da América do Sul, o aumento foi de 10%.

Lula participou da cerimônia em comemoração à marca de 15 milhões de veículos produzidos pela Volkswagen em 52 anos de instalação no Brasil. O modelo símbolo para festejar a marca foi um Fox Europa, que começou a ser produzido este mês na fábrica do ABC para ser exportado, a partir de junho, para 20 países europeus. Agora, a Anchieta divide a produção do compacto com a unidade do Paraná, onde são feitas as versões para o mercado brasileiro e América Latina.

Maergner disse que a maior parte dos R$ 259 milhões que a Volks tem direito como devolução de créditos do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) por parte do governo de São Paulo será investida na linha do Fox Europa no ABC.