Título: Tesouro prepara ofensiva para vender títulos de longo prazo
Autor: Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Economia, p. B8

O Tesouro Nacional pretende divulgar até o fim deste semestre um conjunto de medidas para aumentar a venda de títulos da dívida interna com vencimento de longo prazo. Para isso, vai facilitar as regras de acesso dos investidores estrangeiros, pois esses tradicionalmente têm maior interesse por esses papéis. No México, por exemplo, a imensa maioria dos títulos de longo prazo da dívida doméstica está nas mãos dos estrangeiros. No caso do Brasil, essa presença de estrangeiros é praticamente irrisória. "O mercado de papéis de longo prazo é ainda pouco desenvolvido no Brasil", disse ontem ao Estado o secretário-adjunto do Tesouro Nacional, José Antonio Gragnani. Hoje a maior parte dos títulos de longo prazo é comprada pelos fundos de pensão, que precisam desses papéis para ajustar suas carteiras de investimentos aos compromissos futuros. "Ainda há muita desinformação com relação à qualidade da estrutura do mercado e à forma de investimento no mercado doméstico", disse. "No passado, por causa da volatilidade, o Brasil não era um país interessante para receber investimentos estrangeiros. Dada a estabilidade que temos hoje, o que falta é um pouco mais de informação."

O mercado doméstico de títulos está totalmente aberto ao investidor estrangeiro, mas seu acesso ainda é complicado. O projeto que vem sendo desenvolvido pelo Tesouro desde o ano passado visa justamente definir um novo marco regulatório com mecanismos que acabem com esses entraves. "O objetivo é desburocratizar o acesso dos investidores estrangeiros", explicou o secretário. Não há intenção de mudar a tributação sobre esses investimentos. "Tributação não é o objetivo das medidas", adiantou o secretário.

Gragnani afirmou ainda que a maior participação dos estrangeiros na compra de títulos da dívida interna vai permitir a ampliação da base dos investidores. Quanto maior o número de investidores que detêm títulos da dívida, melhor para o País. Isso significará menores custos para o governo brasileiro administrar a dívida, ressaltou Gragnani. "Oitenta por cento da dívida pública brasileira está concentrada no mercado doméstico. Faz sentido que nós desejemos que os investidores externos venham para o mercado local", justificou ele.

Nessa estratégia de atração dos investidores estrangeiros, um novo road-show foi agendado para a próxima semana. Depois da Ásia e dos EUA, em abril, o mercado londrino foi escolhido para a visita de uma nova missão, que terá a participação, além do Tesouro, de representantes da BM&F, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Companhia Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC).