Título: Programa do BNDES não atrai distribuidoras de energia
Autor: Irany Tereza, Nicola Pamplona
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2004, Economia, p. B9

Na hipótese mais otimista, menos de um décimo dos R$ 3 bilhões destinados pelo governo ao Programa de Apoio à Capitalização de Empresas Distribuidoras de Energia Elétrica, lançado em setembro de 2003, será efetivamente desembolsado pelo BNDES. "Houve uma frustração de R$ 3 bilhões no setor elétrico", afirmou o presidente do banco, Guido Mantega, ao Estado, atribuindo à falta de adesão ao programa parte do fraco desembolso do BNDES no primeiro trimestre (cerca de 15% do orçamento anual de R$ 60,8 bilhões). Apenas dois pedidos ainda estão em análise. A direção do banco não revela quais as empresas envolvidas, mas juntos, os projetos correspondem a R$ 250 milhões. Os cerca de R$ 800 milhões aprovados para a capitalização da Neoenergia (antiga Guaraniana), holding controladora das distribuidoras do Nordeste Coelba (BA), Cosern (RN) e Celpe (PE), não foram utilizados. A Light, do Rio, uma das empresas que mais fizeram campanha pelos recursos do governo, também não foi adiante na apresentação de propostas.

A empresa, porém, diz que ainda trabalha para se adequar às condições impostas pelo banco de fomento para receber o financiamento. O prazo para fechar as operações vence em junho.

"Ficamos surpresos com a não concretização disso (o programa de capitalização das elétricas). Apenas uma ou duas (distribuidoras) fizeram reestruturação. Mas não se pode dizer que foi uma coisa ruim, justamente porque era reestruturação, não investimento novo", comentou Mantega. Ele lembrou que o processo incluía a substituição da dívida de curto prazo das companhias com os bancos por dívida de longo prazo com o BNDES.

Na opinião de especialistas, o baixo interesse pelo programa reflete a melhora no mercado de energia elétrica no último ano, com o aumento de vendas e queda do dólar, fatores que reduzem as pressões sobre os custos. De qualquer forma, destaca um analista do mercado financeiro, o lançamento do pacote de capitalização teve efeito positivo para o setor, já que garantiu maior confiabilidade ao sistema e ajudou as distribuidoras na renegociação de dívidas com credores privados.

O mercado ainda espera que grandes distribuidoras cumpram as exigências para obter os recursos. A Light, por exemplo, informou que abriu uma nova rodada de negociações com 17 bancos privados, na tentativa de receber os R$ 700 milhões a que tem direito. A Neoenergia ainda avalia a possibilidade de aderir ao programa.