Título: Estudo conclui que o aço não é o 'vilão'
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/05/2005, Economia, p. B9

Um mês após o governo reduzir o imposto de importação para 15 produtos siderúrgicos para conter os preços no mercado interno e evitar o impacto na inflação, o Instituto Brasileiro de Siderurgia (IBS) apresentou ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior um estudo tentando provar que os aumentos de preço do aço nos últimos meses não exerceram pressão inflacionária. O estudo foi realizado pelo professor Luiz Roberto Cunha, da PUC do Rio, e apresentado ontem ao grupo de trabalho sobre mercados do Fórum de Competitividade de Siderurgia, formado por representantes do governo, empresários e trabalhadores. "Como começaram a dizer que a culpa era do aço e estávamos convencidos que essa não era a realidade, encomendamos um estudo para comprovar isso", explicou o diretor técnico do IBS, Rudolf Bühler. "Dizer que, no Brasil, o aço é problema, não me parece a realidade. Se o aço é um bem comercial, uma commodity, os preços variam de acordo com os preços internacionais. Os aumentos de preços são um fenômeno mundial", argumentou Cunha.

O estudo conclui que os aumentos de preços nos últimos meses não podem ser considerados abusivos já que, entre 2001 e meados de 2004, reajuste do aço ficou abaixo da variação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Há uma subdivisão do IPCA específica para o aço, e esse índice foi usado no estudo. "Se o IPCA da cadeia do aço seguisse a variação do índice cheio, a inflação teria sido, entre 2000 e 2004, 1,5 ponto porcentual maior", diz o documento. O IPCA do aço só passou a superar o índice geral no segundo semestre de 2004.

Cunha disse que o problema da inflação no Brasil é estrutural e não se pode culpar "setores específicos em momentos específicos". Segundo ele, os principais responsáveis pela inflação são os chamados preços administrados que representam quase 30% do IPCA. Dessa forma, Cunha defende a regulação do próprio mercado e recomenda que não haja intervenção do governo.