Título: No ABC, Lula discursa como candidato e faz promessas para 2008
Autor: Fausto Macedo
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Nacional, p. A4

Em missa em São Bernardo, presidente garantiu que irá cumprir compromisso de levar luz para 12 milhões de lares Na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, em São Bernardo, - que lhe deu guarida e o protegeu do arbítrio, 25 anos atrás -, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assistiu ontem à missa pelo Dia do Trabalhador, ouviu em silêncio longo sermão contra "o desemprego, causa de muitos males sociais e morais" e respondeu com um discurso otimista, de candidato, revelando planos e um cronograma de obras que chegam a 2008. Cinco vezes ele enfatizou que está "feliz". Fez do altar o palanque. Falou com eloqüência da reforma agrária, do microcrédito e até do mínimo, que considera "razoável". Sob aplausos, que romperam a solenidade do templo, prometeu luz para todos. "Posso dizer que até 2008 nós iremos cumprir nosso compromisso de levar luz para os 12 milhões de lares brasileiros que ainda não têm energia elétrica", declarou.

Dois mil fiéis e o Senhor testemunharam a promessa do presidente, cujo mandato termina em 2006. "É um trabalho imenso porque o Brasil é muito grande, mas nós vamos levar a luz. Essa é uma certeza e é uma garantia de que não haverá, a partir de 2008, nenhum brasileiro ou brasileira que não tenha um bico de luz para acender na sua casa."

Além da luz, ele garantiu água em abundância. "Outra coisa que vai gerar emprego no Nordeste, e eu vi que aqui tem muita gente da nossa terrinha, é que nós, finalmente, depois de mais de 150 anos, vamos fazer um processo de revitalização do Rio São Francisco. D. Pedro quis fazer a transposição, em 1846. Nós vamos levar água para aproximadamente 12 milhões de famílias nordestinas e fazer boa política de cooperativa de produção de coisas para ajudar na agricultura familiar." Lula chegou às 9h25 à paróquia, que é a Matriz de São Bernardo do Campo, acompanhado de Marisa, sua mulher.

"Viver sem direito não é direito" foi o tema da missa do 1.º de Maio celebrada por d. Nélson Westrupp, bispo da Diocese de Santo André. Ele pediu pelos desamparados e os excluídos e condenou o "empobrecimento gradativo da população brasileira, que aflige a sociedade, o governo e a Igreja". Na homilia do sexto domingo de Páscoa, pediu reflexão sobre o desemprego que atinge "sobretudo a vida familiar, a juventude, a segurança e tantos outros setores da sociedade".

De frente para o presidente, d. Nélson advertiu sobre "a fome, a desnutrição e a opressão" e conclamou "a sociedade, a Igreja e o Poder Público a refletirem sobre o trabalho e a difícil situação dos desempregados". Exortou a todos que tenham esperanças e sonhem "utopicamente nosso País proporcionando ótimas condições de vida a um povo equilibrado e feliz, respirando justiça social e paz duradoura". O bispo ofereceu a palavra e o microfone a Lula, mas antes concluiu a pregação com um afago ao presidente. "Nós reconhecemos que há esforço do governo em avançar em reformas sociais, em aumentar progressivamente o salário mínimo, em realizar as reformas previdenciária, tributária e agrária, em dar atenção especial às mulheres trabalhadoras, em ir ao encontro dos jovens pobres das periferias."