Título: Severino é vaiado por 1 milhão em SP
Autor: Carlos Franco
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/05/2005, Nacional, p. A5

Presidente da Câmara dos Deputados diz que vai ser porta-voz dos trabalhadores e adverte Lula: "Não faça o povo sofrer" O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti (PP-PE), foi vaiado nas comemorações do 1.º de Maio da Força Sindical, no Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo. As vaias causaram constrangimento às autoridades, entre elas o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e os presidentes do PPS, Roberto Freire, e do PDT, Carlos Luppi. Como as vaias começaram antes mesmo de Severino pegar o microfone, quando foi anunciada a sua presença no palanque pelo deputado federal Luiz Antônio Medeiros (PL-SP), criou-se uma expectativa para saber como o presidente da Câmara reagiria à situação. Quando começou a falar, Severino surpreendeu: "Que maravilha, que maravilha!" repetiu o parlamentar, ignorando a reprovação quase unânime. Naquele momento, a PM estimava que 1 milhão de pessoas estavam no local.

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, tentou acalmar os ânimos quando passou o microfone a Severino, anuncinado-o como um aliado dos trabalhadores. Não obteve sucesso. Paulinho fez pedidos insistentes, com gestos, para que o público parasse de levantar as mãos em sinal de reprovação a Severino. De novo, sem sucesso.

Também eram poucos os que entendiam o recado de Severino ao governo. Ele criticou a MP 242, da Previdência Social, que trata de benefícios a acidentados, sem explicar do que trata a medida provisória. Lembrou a derrota do governo, logo quando assumiu a presidência da Câmara, envolvendo a tramitação da MP 232, que aumentava o Imposto de Renda para o setor de prestação de serviços.

Depois de aceitar o convite de Paulinho para ser o porta-voz dos trabalhadores no Congresso, o deputado pediu a solidariedade do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para diminuir o desemprego no País. "Não faça o povo sofrer", disse, qualificando a festa dos trabalhadores como consagradora.

Para Alckmin, "vaias acontecem, são parte da vida pública", mas ele apresentou uma receita que considera infalível contra vaias: "O orador deve ficar de pé, para ser visto; falar alto, para ser ouvido, e falar pouco, para ser aplaudido". Severino estava de pé, mas é baixo; falou alto, em microfones acoplados a caixas de som poderosas, mas falou muito e como se estivesse no Parlamento.

Em tumultuada entrevista, ao deixar o palanque, Severino, mais uma vez ignorou as vaias: "Eu só ouço aplausos, as vaias deviam ser para o governo". Ele prometeu que a reforma sindical será votada este ano pela Câmara, mas não da forma como a enviou ao Palácio do Planalto.

"Tudo que for contra o trabalhador, nós seremos contra, e vamos consertar", ressaltou.